12.4.11

In vino veritas, um amor pelo peixe e um copo de Moscatel Roxo Rosé

Peixe em Lisboa 2011

Eu não tenho bom vinho. Literal e metaforicamente. Gosto mas não conheço. Encanto-me com a cor e as diferentes gradações que invadem o copo. Prefiro os tintos aos brancos, os mais secos em detrimento dos doces. Provo porque quero saber mais. Não sei o suficiente para ser uma apreciadora. Escolho porque o rótulo me diz algo ou me foi aconselhado. Castas, colheitas e regiões. Nada que eu possa compreender sem estudo e muitas explicações. Harmonizar vinho com o que o prato oferece? Seja peixe, carne ou vegetais. Sei ainda menos sobre isso.

Já de peixe conheço um pouco mais. Mas não custa continuar a aprender se a oportunidade estiver ao virar da esquina e proporcionar experiências memoráveis. É o que acontece no Pátio da Galé no Terreiro do Paço, local onde decorre o Peixe em Lisboa, um evento gastronómico onde o peixe desempenha o papel principal nas ementas e pratos de conhecidos chefes e restaurantes.

Peixe em Lisboa 2011

E foi lá que passei um dia a falar de comida, a comer peixe e marisco, em cursos de culinária, a provar vinhos, a fazer sushi com a Anna Lins e um esparregado de espinafres e banana (para acompanhar um Sável em folha de bananeira) com a Mariana e a equipa do Chakall. Entre mini-gelados de poejo e conversas no mercado gourmet, café forte vindo da Índia e muita água, houve ainda tempo para almoçar. Doce para começar, um rebuçado de camarão, da mão da Chefe Justa Nobre. Muita escolha e uma vontade de sopa, neste caso fria, de tomate e santola, com parmesão e rebentos, cortesia do 100 maneiras do Chefe Ljubomir Stanisic. Só falta um copo de vinho rosé que o calor assim pede.

Peixe em Lisboa 2011



Se o dia chegasse ao fim com o almoço e duas aulas de culinária já teria sido cheio de sabores diferentes e de experiências enriquecedoras. Mas o momento mais especial estava ainda por vir e chegou pela mão do Chefe Leonel Pereira. Tínhamos reservada uma harmonização com vinhos de Domingos Soares Franco e uma conversa muito animada. A paixão de um chefe pelos ingredientes é reveladora de um conhecimento e respeito pela profissão que para mim foram profundamente tocantes. Não que seja segredo para alguém a enorme qualidade do Chefe Leonel Pereira (a não ser talvez para os senhores do Guia Michelin).

Chefe Leonel Pereira e a sua equipa

A forma como o Chefe fala de um carabineiro ou de um salmonete é uma emoção. Para ele, que sente cada palavra, e para os privilegiados que como eu podiam ficar a ouvi-lo o resto da noite. Reconheço-lhe uma capacidade pedagógica de comunicar as suas ideias e valores que é em tudo singular. Agradeço-lhe essa vontade de explicar a que chamo serviço público. É de uma generosidade comovente!

Tratando-se de uma harmonização com vinhos, a presença do Enólogo Domingos Soares Franco e do seu Moscatel Roxo Rosé 2010 é cativante desde o início. Ou não tivesses este vinho a mais bonita das cores! Eu podia ficar só com as palavras mas os pratos complementam uma hora e meia de boa conversa, bom vinho e um risotto de espargos, erva príncipe e salicórnia com uma carabineiro inesquecível. 200 gramas de flor de sal e 30 segundos de um banho salgado. Um prato e um vinho que não esqueço. Em seguida, um filete de salmonete com falsa maionese de laranja e puré de favas e ervilhas em que as cores e as texturas fizeram com um DSF verdelho as delícias dos comensais. O melhor dos finais para um dia partilhado verdadeiramente fantástico.

Harmonização com o Chefe Leonel Pereira