1.7.11

Roma Bella e outras histórias

Roma Bella

Todos os caminhos vão dar a Roma. Todos, à excepção dos meus. A minha história de amor não correspondido com a capital italiana começa quando eu tinha 7 anos. Foi o ano em que os meus pais fizeram uma primeira grande viagem sem mim e o meu irmão. Foram a um país em forma de bota e a uma cidade chamada R-O-M-A. Dedos pequeninos sobre o mapa a percorrer a distância entre Évora, a nossa cidade, e Itália. Era muito longe. Mesmo assim posso ir? E lá vieram as explicações que alguém tinha de tomar conta dos gatos e dos cães. E dos avós. E ir à escola e outras coisas mais. Fiquei, claro. Mas sob protesto. Exigi muitas fotografias, um livro sobre Roma e vários boiões pequeninos de compota. E têm de ser de sabores diferentes! O meu irmão, mais preocupado com outras necessidades, pediu uma ambulância. Um e outro já com as suas prioridades bem definidas. No regresso, vimos os desejos satisfeitos. O meu livro era em castelhano (o que deu direito a um franzir de nariz) e os boiões eram só três. Desconfio que a ambulância do meu irmão, que fazia tinonin, era made in Portugal... Mas não tenho provas. O melhor foram as fotografias (que demoraram mais uma semana a revelar) e que nos fizeram viajar por lugares nunca vistos e outros quase reconhecíveis. Oh mãe, afinal Roma também tem um Templo como o nosso!

Não fui aos 7, nem aos 17 (altura em que o meu coração pertencia a Londres). Também não fui aos 27 (o meu "Período Espanhol") e antes que os 37 apareçam por aí, achei melhor ir agora. Encantei-me com uma Roma obscura, com as fachadas em ocre e alaranjado, com o chão empedrado e com a língua. Eu podia ouvir falar italiano um mês inteiro sem nunca deixar de sorrir!

Roma em volta do Campo d iFiori



E podia comer pizza e pasta durante semanas sem me fartar. E gelados e tiramisú e zuppa inglese. O que pensando bem, não é nada boa ideia. Aliás, a comida italiana é uma tentação. Pena que tenha sido inventada para quem fala muito, gesticula muito, corre muito, ri muito e que não se compadece com quem não tem um "motor de alto débito" que consuma todas as calorias ingeridas em refeições que começam com antipasti, têm primi piatti, secondi com contorni e assim por diante, num nunca mais acabar de pratos cheios de coisas boas. Felizmente também há uma Crema fredda di Pomodoro Biologico con Stracciatella di Burrata, Basilico e Crostini di Pane Artigianale, que é como quem diz sopa de tomate fria. (Grazie querida Carlota pela dica!)

Obiká Mozzarella Bar, Roma

Se a isso chegássemos, também podia caminhar sem destino pelas ruas dos bairros mais residenciais como o Testaccio e ficar no jardim a ver os miúdos jogar à bola. E sentar-me nos bancos onde os vizinhos põem a conversa em dia e rir-me à socapa dos rapazes da pizzeria que comem descansadamente gelados enquanto os clientes esperam. Ou perder-me nos jardins da Villa Borghese e fazer a rua das magnólias para cá e para lá numa conversa interminável sobre tudo e sobre nada. E se tivesse mesmo de ser, até passava pela coluna de Trajano e pelo Forum Itálico, sempre repletos de gente. E carros. E scooters. Todos em velocidade máxima. Só para me esconder nas ruas do Monti, um dos bairros mais em voga, e almoçar no L'Asino d'Oro.

Magnólias e colunas

Podia até andar de metro e de eléctrico para chegar a uma das zonas mais residenciais da cidade onde nasceu o museu MAXXI, um projecto de Zaha Hadid e o Auditório Parco della Musica do arquitecto Renzo Piano. Ou andar de Fiat 500 e sorrir aos sinais intervencionados por todo o centro histórico. Podia e foi o que fiz. Agora quero apenas retornar qualquer dia. Espero pelos 47?

Roma antiga e actual // Old and new Rome