6.5.14

No restaurante A Charcutaria, à conversa com um artesão gastronómico

A Charcutaria, Lisboa

É assim que a Rua do Alecrim começa a subir do Cais do Sodré. À esquerda, fica A Charcutaria, um espaço com recantos convidativos e uma janela inspiradora. Entro para um almoço tardio e uma boa conversa com o artesão gastronómico: Manuel Martins tem muito para contar. Na sua cozinha, com fortes traços da gastronomia alentejana contam-se anos de experiência e muito amor pela partilha da mesa. Sento-me na barra, logo ao lado da cozinha. Nas mãos do chef coloco o destino deste almoço. São suas as escolhas e as histórias em torno dos pratos que fazem as minhas alegrias.

Para começar, aquelas que são conhecidas como as melhores empadas da cidade de Lisboa. Desembraço-me dos talheres e à primeira dentada a certeza de que são certamente das melhores que tive oportunidade de provar. Excelentes. Servidas como entradinha, a ombrear com um delicioso patê de fígados de aves e torradas de pão alentejano, são incontornáveis em qualquer visita À Charcutaria.

A Charcutaria, Lisboa A Charcutaria, Lisboa

Ainda com uma pequena tosta de queijo da Ilha e presunto na mão, perco-me de amores por umas petingas em conserva caseira. Manuel Martins explica o segredo destas pequenas sardinhas e o processo de confecção. De sabores fortes, hão-de desafiar o prato seguinte: uma patanisca com salada russa, que estando bem, não me faz esquecer as petingas. Falo delas, uma e outra vez, até chegarem as migas de ovo e batata, que na sua enorma simplicidade são para mim sinónimo do que de mais interessante tem a cozinha alentejana.

Com as entradas ainda a desfilar à minha frente, dou por mim a pensar num dos pratos assinatura d'A Charcutaria. Não resisto a perguntar, esperançosa, se há sopa de tomate e ovo. Recebo um sorriso cúmplice.

A Charcutaria, Lisboa A Charcutaria, Lisboa



A Charcutaria, Lisboa A Charcutaria, Lisboa

No entretanto, um prato de foie gras com uma redução de Porto, que não me diz muito. E eis que chega. A dita, confeccionada com sabedoria. A sopa de tomate. Muito, muito boa. Estamos em Abril e ainda assim dou-me por muito satisfeita. Combinamos voltar em Agosto, época alta do tomate, para desfrutar desta sopa na sua plenitude. A avaliar pela que acabamos de comer, tem de ser excepcional.

Dos peixes, o peixe-galo na grelha e o atum são os senhores que se seguem. Com a barriga cheia e muita conversa pelo meio, estou satisfeita. Anuncio que fico por aqui. Não pode ser. Manuel Martins fala num mimo, prato incontornável dos clientes habituais e dos mais afoitos: pézinhos de borrego em tomate. Com uma filosofia apologista da utilização de todos as partes do animal, o retorno aos pratos de outros tempos faz todo o sentido. Confesso que não sou fã de borrego e este não foi o meu prato preferido. Ao meu lado, contudo, uma comensal muito feliz ostentava um sorriso de orelha a orelha. Para os amantes deste prato, fica a sugestão de perguntar por ele ao chef. É que a iguaria não consta na carta.

A Charcutaria, Lisboa A Charcutaria, Lisboa A Charcutaria, Lisboa A Charcutaria, Lisboa
A Charcutaria, Lisboa

Para terminar, café e uma bolachinha de noz recheada de ovos moles e servida com um molho de frutos vermelhos. Deliciosa. A pedir para ser repetida noutras refeições.

Uma boa opção para conhecer A Charcutaria e provar os pratos de Manuel Martins é ir ao almoço durante a semana (menu 12.50€, entrada e prato).

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A Charcutaria
Rua do Alecrim, 47
Chiado
Lisboa