14.3.08

Saudade & Pão de Deus



Não há coisa mais portuguesa que a saudade. Que o digam os fadistas que cantam há décadas isto de ser português! Tanto é, que a palavra saudade não tem tradução imediata na maioria das línguas e sentir a falta de algo não é, convenhamos, o mesmo de sentir saudade ou saudades. Há qualquer coisa de intangível e inatingível que escapa a quem não nasceu e cresceu com a nostalgia dos bons velhos tempos encrustada nos ossos. É como comer um pastel de nata e provar um pastel de Belém: a receita não difere muito, parecem iguais e tendem a ser confundidos. Quem comeu um pastel de Belém sabe que não podem ser comparados.

De facto, a pastelaria semi industrial portuguesa representa também o espírito português e tem uma forte tradição no nosso país. O projecto Fabrico Próprio enumera os bolos de Portugal: Pastel de Nata, Palmier, Jesuíta, Alsaciano, Bolo de Arroz, Parra, Mil Folhas, Queque, Travesseiro, Bom Bocado, Brisa, Esquimó, Pata de Veado, Orelha, Rim, Tíbia, Caracol, Bábá, Napoleão, Josefina, Bola de Berlim, Xadrez, Duchesse… Bolos em porções individuais, mais ou menos ricos ou mais ou menos sofisticados podem ser comidos um pouco por todo o lado, de cafés de rua a produzidos salões de chá. Todos os portugueses têm um bolo favorito. Qual é então o meu? Não sou grande apreciadora de bolos mas morro de amores por pão. O Pão de Deus fica entre os dois e é o meu preferido.




Pão de Deus


10-12 unidades

3 ovos grandes
3/4 chávena manteiga sem sal, à temperatura ambiente
1 1/4 chávenas leite, morno
1/2 chávena açucar
1 vagem baunilha, aberta ao meio, sementes separadas
sal
5 chávenas farinha tipo 55
1 colher chá fermento seco

cobertura para 6 (deixei os outros simples, para colocar coco em todos dobrar as quantidades)
1 chávena coco ralado
1/2 chávena açucar
1 ovo

1 ovo para pincelar
icing sugar para polvilhar

Numa tigela, usando os dedos, misturar as sementes da baunilha com o açucar total (da massa e da cobertura), juntar a vagem partida ao meio e reservar. No momento de utilizar o açucar retirar a vagem. (Em alternativa, misturar um pacote de açucar baunilhado, reduzindo a quantidade de açucar "normal")

Numa tigela maior, misturar a farinha, o fermento e o açucar. Fazer uma cova ao centro e colocar os ovos ligeiramente batidos com o sal. Com um garfo ou com as mãos, incorporar os ingredientes até a massa poder ser amassada - se a massa estiver demasiado húmida, juntar uma colher de farinha de cada vez até se tornar possível manejá-la. Aos poucos incorporar a manteiga e colocar a massa numa superfície enfarinhada. Amassar vigorosamente por 10 minutos ou até a massa se apresentar elástica e brilhante. Nesta fase, a massa continua leve mas deve agarrar menos às mãos. Colocar a massa numa tigela untada com manteiga, cobrir com película e deixar levedar num local quente e seco por 1 hora ou até duplicar o tamanho.

Entretanto, prepara-se a cobertura numa tigela, misturando o coco e o açucar com o ovo ligeiramente batido.

Divide-se a massa em 10 ou 12 partes. Com a palma das mãos, formam-se os bolos em forma de bola. Colocam-se sobre papel vegetal num tabuleiro, deixando espaço suficiente entre cada um para que possam duplicar de tamanho. Cobrir com um pano e deixar levedar por mais 30 minutos.

Pré-aquecer o forno a 180ºC.

Pincelar os bolos com o ovo batido e colocar uma colherada da mistura de coco sobre cada um. Levar ao forno por 20 minutos ou até estarem cozidos. Remover e deixar arrefecer sobre uma grelha. Polvilhar com icing sugar para servir.