11.4.13

Pratos, vinhos e um livro no Peixe em Lisboa

House maki, chef Paulo Morais, Umai

Reunidos num sítio só, estão todos os sabores do mundo. Às vezes, um mundo mais próximo, mais dentro de casa, mais tradicional ou mais contemporâneo, sempre mais Português. Outras, um mundo além fronteiras. A cheirar a caril ou a leite de coco, a saber a quinoa ou a algas. A juntá-los, no lugar geométrico em que todos se interceptam, o peixe. Uma espécie de cola para dar corpo a um evento que tem a particularidade de trazer a Lisboa chefs e produtos de todo o mundo e dar a conhecer o que de melhor se faz cá dentro. Com peixe, claro.

O Peixe em Lisboa tem a virtude de juntar diferentes perspectivas e diferentes linguagens e agregá-las em torno da gastronomia e do vinho. É a altura do ano em encanto com vinhos diferentes, como o rosé ou o verdelho. Logo eu que tenho um fraquinho pelos tintos e retorno rápido à minha zona de conforto. Guardo no coração um Verdelho Domingos Soares Franco - Colecção Privada de 2011 que se tem cruzado comigo nas harmonizações e um sempre bem-vindo Moscatel Roxo Rosé, que conheço de outros anos.

Verdelho DSF Colecção Privada Salada de polvo, chef Henrique Mouro, Assinatura

Enquanto ao almoço um copo de Moscatel Roxo Rosé acompanhou o meu House Maki com ovas, saído das mãos do chef Paulo Morais do Umai, ao jantar o fantástico Verdelho veio com a entrada, uma salada de polvo, não menos fantástica, na harmonização com vinhos em que a cozinha do chef Henrique Mouro do Assinatura encontrou os vinhos da José Maria da Fonseca. Uma experiência memorável de que fizeram parte outros vinhos a acompanhar uma sopa de peixe com limão, um atum com lulas grelhadas e puré de ervilhas e uma sobremesa com ostras de que falo mais adiante. Sim, ostras.

Mas nem só de comida se vive. Alimentar o espírito é razão de sobra para um olhar sobre outras experiências. Dos livros e das palavras que se escrevem sobre comida, para mim de uma importância tão grande como comer. Encontro-me com a simples e serena cozinha do chef Fausto Airoldi no seu livro, Cozinha com identidade.

chef Fausto Airoldi
Cozinha com identidade, chef Fausto Airoldi

Exemplar no conceito, no conteúdo e na perspectiva sobre a cozinha portuguesa, este é um livro que espelha a enorme valia de um chef menos mediático que outros, com um percurso em tudo extraordinário. Canja, sopas, torricados, açordas, migas, papas e xerém, escabeche, arroz, pisos, à Brás, suados, feijoadas, broas doces e doces de ovos. Secções de um livro onde se vão encontrando os produtores, como a Maria José Macedo da Quinta do Poial, a Herdade do Freixo do Meio ou a Conserveira de Lisboa. Como se não fosse suficiente, cada capítulo tem um texto introdutório de Virgílio Nogueiro Gomes, uma delícia traduzida em palavras. Um livro a muitos níveis extraordinário. Com prefácios de Maria de Lourdes Modesto e do chef Henrique Sá Pessoa. A minha única pena é que graficamente não possa estar ao mesmo nível. No mundo em que a forma esconde tantas vezes o (mau) conteúdo, aqui apesar da forma fica a excelência do conteúdo. Recomendo vivamente.

Nenhuma passagem pelo Peixe em Lisboa termina sem sobremesa. A que me marca a memória veio acompanhada de uma tarte de lima (que achei excessivamente doce), um creme de ostra queimado genial do chef Henrique Mouro. Muito bom!

Leite-creme com ostras, chef Henrique Mouro, Assinatura

O Peixe em Lisboa acontece no Pátio da Galé até Domingo, dia 14.