8.4.11
Salteado de tofu, couve roxa e ervilhas tortas e um conversa sobre louras
Uma loura bonita não é inteligente. Não gosta de literatura. Não lê os clássicos. Não pode. A convicção popular é alimentada no mais íntimo de cada um a cada novo caso de uma cabeça amarela pela qual passa um túnel de vento ou a cada excepção que confirma a regra. De quando em vez lá aparece uma loura bonita que, pasme-se, é também inteligente. Que sabe escrever. Que tem coisas para dizer. Fios de cabelo dourados a encimar um cérebro funcional e uma carinha laroca. Se uma réstia de qualquer coisa que se assemelhe a justiça divina ainda resta, uma loura bonita e inteligente não sabe cozinhar. Não sabe fazer ovos florentinos. Não tem uma receita imbatível de bolo de chocolate. Não pode.
Uma longa noite de conversa envolta em gargalhadas. Tantas cabeças cheias de ideias, nenhuma delas loura. A minha amiga Carlota apresenta-me essa loura única, em forma de livro. Um livro bonito, daqueles que também se vêem com as mãos, passando os dedos devagarinho sobre as páginas coloridas. Como se as letras tivessem relevo e as fotografias se pudessem provar. Uma ex-modelo loira que fez cinema e agora escreve livros, de receitas e outros. Hão-de convir que o guião não indicia nada de bom. E eis que o insólito acontece. Uma ligação que se cria. Eu que tive uma fase loura que terminou aos dois anos e da qual apenas restam fotografias e um envelope de caracóis cor de palha, dou por mim a querer ver mais. Identifico-me com a escrita e gosto das receitas. Não largo o livro. Fico a pensar que isto de cabeça, cérebro e estômago tem muito que se lhe diga.
Esta receita vem do livro de Sophie Dahl, Miss Dahl's Voluptuous Delights e é uma breve incursão nas tendências da cozinha asiática, usando uma técnica de confecção, ingredientes e temperos que remetem para outras paragens.
A cozinha asiática tem tradição na confecção rápida de vegetais, numa "fritura" com pequenas quantidades de gordura que potenciam os sabores sem alterar muito a aparência e composição de cada um. A utilização de um wok é opcional e pode fazer-se algo semelhante usando uma comum frigideira antiaderente. O tofu, amado por uns, detestado por outros, é produzido a partir da soja. Como não tem muito sabor, deve ser temperado e condimentado funcionando como um bom veículo para muitos e diferentes sabores. É também uma boa fonte de proteínas para vegetarianos.
Salteado de tofu, couve roxa e ervilhas tortas
Adaptado livremente a partir de Sophie Dahl, Miss Dahl's Voluptuous Delights
Serve 2
1 colher (sopa) sementes de sésamo
2 colheres (sopa) óleo de sésamo
125 g tofu firme, em cubos
1 cebola média, em rodelas finas
½ couve-roxa pequena, picada
2 colheres (sopa) molho de soja
1 colher (chá) mirin (ou vinagre de sidra)
1 cenoura grande, ralada
½ batata doce assada, descascada e em fatias
8-10 ervilhas tortas
coentros frescos picados, para servir
Use um wok ou uma frigideira antiaderente e toste as sementes de sésamo (a seco) durante 1 minuto, mexendo a frigideira para não queimarem. Retire para um prato e reserve. Deixe a frigideira arrefecer ligeiramente. Deite uma colher de óleo e o tofu. Vá virando os cubos até estes estarem dourados. Retire e reserve. Junte o resto do óleo e a couve-roxa. Cozinhe por 8 minutos, salpicando com um pouco de água se necessário. Adicione a cebola e mexa. Junte o tofu e a cenoura e regue com um pouco de molho de soja e de mirin. Repita com a batata doce e as ervilhas tortas e o resto do molho de soja e mirin. Vá mexendo até estar cozinhado (3-5 minutos). Prove rectifique o sal se necessário. Polvilhe com os coentros e as sementes de sésamo. Envolva delicadamente e sirva de imediato.