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14.6.16

{Islândia} Ingredientes, receitas e lugares especiais onde comer

Islândia: ingredientes, pratos e lugares especiais

Há uma aura mágica na Islândia que faz da terra do fogo e do gelo um território único onde os opostos se encontram. Ao redor a paisagem de uma beleza sem igual leva-nos a questionar os canônes e a sentir uma ligação imediata e inexplicável a esta ilha sem árvores, com mais ovelhas que pessoas e um oceano sem fim a toda a volta. É de lá que vêm muitos dos ingredientes que chegam à mesa dos islandeses, confeccionados segundo uma tradição culinária muito marcada pela geografia e pela cultura. A cozinha da Islândia, com uma herança evidente da gastronomia dinamarquesa, caracteriza-se por uma abordagem simples onde os ingredientes produzidos numa das regiões menos poluídas do mundo assumem papel de relevo.

Ainda com as memórias da viagem recente em que fomos conhecer o bacalhau da Islândia e como preparação para o primeiro jogo de Portugal no Euro 2016, deixo-vos uma lista de ingredientes islandeses, pratos a provar e lugares onde encontrá-los em Reiquiavique e na península de Reykjanes.

Islândia: ingredientes, pratos e lugares especiais Islândia: ingredientes, pratos e lugares especiais

23.3.16

{10 razões para voltar a Paris} Bonjour gulosos e gourmands!

Paris, 10 razões para voltar

Para voltar a Paris não são necesssários pretextos elaborados. Pode ser a vontade de caminhar nos boulevards, percorrer a cidade sempre junto ao Sena ou simplesmente ficar a namorar no Champ de Mars à espera que a Torre Eiffel se ilumine. Mas a nossa paixão por Paris começa e termina sempre a uma mesa, num jardim a comer ou de copo na mão. Escreve-se em tartes e tartines, conta-se em croissants e crepes, explica-se em baguettes e galettes. Padarias, pastelarias e mercados aqui vamos nós.

Como todas as listas, esta é pessoal, parcial e em mutação. É feita de comidas e lugares que povoam o nosso imaginário parisiense e sem as quais uma visita a Paris, mesmo que curta, nunca está completa. Tem glúten, lactose e (muita) manteiga. Bon courage!

12.1.16

{Bacalhau da Islândia} Rumo a norte em busca do fiel amigo

Islândia

Que o ingrediente mais adorado num país com costa a perder de vista seja um peixe que é pescado a milhares de quilómetros de distância diz muito da importância do bacalhau na gastronomia portuguesa. Há um mistério que se escreve na história dos bacalhoeiros e na sina aventureira dos marinheiros que se encontra inscrita em cada prato de bacalhau que chega à nossa mesa. É nas águas mais frias do Atlântico Norte que esta jornada começa, com uma pesca responsável que procura manter a sustentabilidade dos recursos marinhos, e foi lá que fui descobrir os caminhos do bacalhau da Islândia que chega a Portugal.

É cedo e não chove na manhã de Dezembro em que deixamos Reiquiavique em direcção à costa na península de Reykjanes. O sol há-de nascer muito depois para ficar apenas uma mão cheia de horas, as poucas que nesta altura do ano caracterizam o dia islandês. Os dois projectos sustentáveis que visitamos partilham um perfil de organização e know how que mostram a indústria do bacalhau como um sector importante na Islândia. Desde a pesca ao processamento e conservação do peixe, todos as etapas são meticulosamente pensadas para obter o melhor resultado: peixe de dimensão controlada (cujos stocks são monitorizados para determinar as quotas permitidas) e que é utilizado integralmente. As nossas caras de bacalhau são apenas um dos exemplos desta filosofia que tudo aproveita, da cabeça ao rabo passando pelo fígado e a pele.

Bacalhau da Islândia, Grindavik Bacalhau da Islândia, Grindavik Bacalhau da Islândia, Grindavik

Já no porto de Grindavik, é tempo de entrar num dos barcos que participam na pesca do bacalhau. A tarefa é tudo menos simples para quem como eu parece ter pouco jeito para chão escorregadio. Lá chego ao convés com ajuda e risos à mistura. Estes são barcos pequenos e funcionais com corredores estreitos e tudo no seu lugar, onde cada um sabe bem o que tem de fazer. Os milhares de anzóis arrumados ordeiramente são lançados com isco (lula ou pedaços de um peixe semelhante à cavala) que permitem uma apanha selectiva. O bacalhau é um peixe muito sensível aos sabores e odores da sua comida. Meio a brincar, lá nos é explicado que quando a lula não é boa para isco segue para consumo humano. Mas voltemos à pesca. Quando os cabos são recolhidos, o peixe é limpo e preparado para ser processado conforme o seu destino.

Afinal para onde vão as diferentes partes do bacalhau e que utilização é dada à pele?

23.12.15

{Ástarpungar} Da Islândia, com amor e sonhos de passas para o Natal

Sonhos da Islândia (Ástarpungar)

Vista de Portugal, a Islândia é um país longínquo e misterioso que guarda o segredo do nosso bacalhau. Nas suas águas vive o fiel amigo, ingrediente essencial na gastronomia portuguesa e imprescindível na mesa do Natal. Das curiosidades da cozinha islandesa faz parte a pouca atenção dada a este peixe, que apenas uma vez ou outra aparece fresco no prato. Mas sobre a pesca sustentável, a indústria do bacalhau e a bonita Reiquiavique partilho em breve a minha aventura por terras do Ártico. Hoje, com o Natal à porta, é altura de pensar nos doces da quadra. Bonitos no nome e deliciosos na boca, chega o tempo dos sonhos!

De volta a casa depois de uns dias a viajar pela Islândia, a inspiração vem de uma receita tradicional daquele país. Ástarpungar significa "bolas de amor", cuja forma redonda dá nome a fritos semelhantes aos nossos sonhos, com passas no interior e uma leve camada de açúcar. Estes doces podem ser encontrados nas casas islandesas durante todo o ano e são uma boa ideia para a ceia do Natal.

Islândia Sonhos da Islândia (Ástarpungar) Islândia

As paisagens áridas e cobertas de gelo fazem da Islândia um lugar muito especial. Quando a meteorologia é clemente as temperaturas mantêm-se em valores acima dos 0ºC, pelo que se compreende que os ingredientes locais no Inverno sejam escassos e que durante o resto do ano estejam disponíveis apenas alguns tipos de cereais (como a cevada) e de frutos (como as bagas). Já nas proteínas, é o marisco, o peixe e o borrego islandês que ocupam o lugar central na dieta local. Razão para que a cozinha islandesa se caracterize pelo uso inteligente do que a terra e o oceano dão e diversas formas de preservar o peixe (muitas vezes seco), a carne (frequentemente fumada) e até o leite (transformado em iogurte ou queijo).

Um lacticínio muito interessante é o skyr que conheci pela mão da Eirný, na sua loja de queijos Burid Trata-se de facto de um queijo com a consistência de iogurte que pelo seu sabor ácido combina perfeitamente com os meus sonhos*. Fica a recomendação que estas pequenas bolas sejam do tamanho de ameixas, pois assim fritam melhor, sem queimar as passas. Aqui ficam, os nossos sonhos de Natal deste ano. Da Islândia, com amor!

Festas felizes e um Natal cheio de açúcar!

Islândia Sonhos da Islândia (Ástarpungar) Islândia

26.2.13

Vinhos galegos e uma harmonização no Maruja Limón

Vinhos Galegos // Galician Wines

Vinho. De mais uma prova do engenho humano, fica-me apenas o gosto. As minhas qualidades de enófila são parcas. Nem cérebro, nem palato. Mas quando se gosta, quer-se sempre saber mais. Sobre o vinho, a sua relação com a comida e o seu lugar à mesa. A harmonização entre vinhos e pratos não é ciência exacta e também aí há um admirável mundo novo a descobrir. A cada nova experiência, vou ávida de conhecimento. Foi assim na visita a Vigo na harmonização com vinhos da região com a cozinha do chef Rafael Centeno no Maruja Limón.

Das surpresas que a noite havia de trazer, retenho um vinho peculiar de produção biológica da Regina Viarum e um tártaro com mostarda, tomilho e lascas de um queijo galego tipo parmesão. Fora da minha zona de conforto fica um mundo de possibilidades. Um vinho tinto que de olhos tapados baralha nariz e boca e um prato de carne sem ser cozinhada, que tivesse eu escolhido o menú, nunca me passaria pelo garfo. Mas, antes de vos contar mais, não se importam de pôr a venda? Surpresos? Também eu.

Foi assim que tudo começou. De olhos tapados (e algum medo).

Vinhos Galegos // Galician Wines Maruja Limón, Vigo

Listado marinado "entomatao"

8.1.13

De Vigo, com amor (e muito peixe)

A chegar a // Arriving in Vigo, Spain

A Vigo chega-se por terra e ar mas é no mar que o coração da cidade bate. Da minha janela, vejo alinhados na água os viveiros onde mexilhões e ostras são criados na Ria de Vigo, a mais meridional das Rias Baixas galegas. A meteorologia rigorosa do mês de Dezembro faz-se sentir. Dir-me-ão mais tarde que têm sido dias difíceis para ir ao mar. Razão de sobra para as menores quantidades de peixe à venda no mercado do Berbés, onde vamos pela manhã de um dia que há-de ser longo: compras para um almoço, ida à pesca, visita aos viveiros de marisco, aula de cozinha, conversas em torno de uma mesa redonda no MARCO e uma ronda pelas tabernas de Vigo. Se ao menos a manhã seguinte não tivesse começado às seis e meia da manhã na lota...

Mas essas são estórias de um dia que se seguiu.

mercado do Calvario

26.9.12

{Lunch at De Kas} Um almoço na estufa ou o elogio da simplicidade

De Kas, Amsterdam

Fica logo a seguir à pequena ponte sobre um dos infindáveis canais. Uma estufa e uma enorme chaminé de tijolos alaranjados onde um casal de cegonhas fazem o ninho. Se a meteorologia fosse clemente, no dia de Verão em que visitamos o De Kas o céu teria mostrado o seu azul e a luz teria feito jus à beleza do lugar. Não foi o caso. Choveu copiosamente em Amsterdão nesse dia. Nada que mudasse os planos de almoço feitos semanas antes.

No De Kas há uma história para contar. Uma estufa municipal prestes a ser demolida ganha novo alento graças ao sonho de Gert Jan Hageman: construir um restaurante (quase) auto-suficiente. No De Kas acreditamos firmemente que a comida sabe melhor quando é preparada com ingredientes frescos, cultivados e colhidos respeitando a natureza.

Um princípio que começa a ser aplicado quando os visitantes são convidados a passear pela estufa, a cheirar e ver os vegetais que depois encontram no prato, ali mesmo ao lado.

De Kas, Amsterdam De Kas, Amsterdam

No menu diário do De Kas todos ingredientes são biológicos e, sempre que possível, provenientes da horta e estufa do restaurante. Comer tomate que foi apanhado 2 horas antes a 10 metros de distância e trazido até à cozinha por mãos cuidadosas faz toda a diferença. O menú muda todos os dias e é fixo. Os comensais podem informar o chef de qualquer alergia alimentar ou de má vontades com certos ingredientes mas desconhecem o que vão comer até o prato lhes ser colocado à frente.

Enquanto nos explicam este modus operandi, chegam à mesa uns tomates cereja de várias cores marinados com ervas, umas gigantescas azeitonas de Puglia, azeite e um pão caseiro irresistível. Vamos petiscando ao ritmo calmo que o lugar impõe. Não há pressas nem na sala, nem na cozinha aberta. Como se tudo fosse para ser vivido devagar. Ou assim me pareceu ainda a mesa não tinha sido inundada por 3 entradas.

De Kas, Amsterdam

12.7.12

{Lunch at the Corner Room} Um almoço na sala do canto

The Corner Room, Town Hall Hotel, London

Londres. Sábado. Manhã de sol. O East End londrino fervilha de vida. O tube leva-nos até Bethnal Green, a estação de metro mais perto do bonito Town Hall Hotel, um hotel de charme recentemente renovado. É para lá que nos dirigimos em busca do nosso almoço. The Corner Room é o restaurante-irmão do estrelado Viajante, ambos comandados pelo chef Nuno Mendes, e é lá que uma mesa nos espera com a promessa de "uma viagem entre aquilo a que sabem os sonhos e memórias de dias passados". Palavra de chef.

Viajemos então. O caminho faz-se por Cambridge Heath Road até Patriot Square. Na esquina fica a porta do Viajante, imponente e serena, guardada por uma Senhora e dois querubins. Passamos e seguimos. Com alguma tristeza, o nosso cartão de embarque não nos dá entrada por aqui. É pela recepção do hotel que a cúpula nos transporta para outro lugar.

Viajante, Town Hall Hotel, London

9.2.12

Cogumelos e ovo escalfado em tosta e um convite para jantar

Londres (de cima) // London from above

Sejam bem-vindos a Londres. A viagem passa pela cidade onde vive o meu convidado de hoje. Virá para o jantar. Ou para o pequeno-almoço. Talvez chegue pela hora do almoço. Nunca se sabe. Resolvo estar preparada. A nossa refeição será uma tosta de cogumelos com um ovo escalfado. O prato que lhe reservei come-se a qualquer hora e cabe nas várias refeições do dia. Se vier para uma refeição mais formal, bebemos vinho. Se ele se perder pelas ruelas e mistérios desta cidade e chegar para o brunch, há-de haver um bule de chá Earl Grey ou uma chávena de café à espera. Não que o homem que convidei para a minha mesa perca tempo com refeições. Entre deduções lógicas e o método científico, criminosos, vilões e gente em apuros é ao violino e à cocaína que recorre quando mais nada funciona.

Hello, Mr. Holmes.

Sherlock Holmes Museum, London
Cogumelos em tosta // Mushroom Toast with a poached egg

Sou uma fervorosa leitora de policiais. Sempre fui. Podia dizer que um dos meus escritores preferidos é Sir Arthur Conan Doyle. Não é verdade. A minha dedicação tem um destinatário diferente. Conan Doyle criou um personagem que saiu do papel, assumiu vida própria e sobreviveu ao criador. A sua morada em 221B Baker Street passou a existir, as suas frases de tão repetidas parecem reais e os seus hábitos são discutidos como se de uma pessoa se tratasse. Li todas as aventuras de Sherlock Holmes que foram, no original, publicadas como um folhetim na revista The Strand. Segui séries televisivas, entre as quais um fantástico Jeremy Brett na Granada Television e mais recentemente um Sherlock moderno, com telemóveis e computadores à mistura (da BBC). É um reencontrar do génio, numa reinvenção constante, em novos cenários e diferentes tempos. Há ainda as sequelas. É que alguém como Sherlock Holmes tem muitas vidas. A minha preferida é da escritora Laurie R. King com a sua Mary Russell a casar com Holmes quando este já vai nos "sessentas" (traduzido em Português) e a ombrear com ele em aventuras pelo mundo inteiro.

A relação de Sherlock Holmes com a comida é de profundo desprezo. Os gritos pela Mrs Hudson nunca são para pedir o pequeno-almoço, para desgosto do Dr. Watson que é um bom garfo e da própria Mrs Hudson, uma cozinheira muito competente. Embora já estejam presentes as influências do império Britânico e a tradicional tendência para os assados, as pies e os hot pots, a Londres vitoriana tem uma cozinha sem grandes rasgos. Estes cogumelos on toast não serão estranhos ao meu convidado já que sabores idênticos podem ser encontrados nas receitas da época. Se ele não gostar, como eu. É que já ando a preparar o estômago para o que dirá de mim.

uma chávena de café e um livro

Convidei para jantar é um projecto da autoria da Ana e o tema deste mês (já adivinharam) é Personagens de livros e/ou filmes. Sherlock Holmes cabe em qualquer das categorias, com os livros (e já agora as séries televisivas) a estarem a anos luz do que tem sido feito no cinema. Um convidado surpreendente. Em todos os sentidos.

13.1.12

{10 razões para voltar a Roma} As escolhas do coração, estômago e cérebro

Roma

Voltar a um lugar conhecido que nos tratou bem é um conforto que nem sempre se repete. Volta-se muitas vezes na procura do que não se viu e na ânsia de repetir as boas experiências. Carregam-se anotações mentais do que não pode faltar e o desejo secreto que as boas recordações não estejam contaminadas pelo tempo de espera. É um misto de desejo de aventura e novas descobertas, por um lado, e de que tudo se mantenha inalterado, por outro. Crio com as cidades da minha vida laços difíceis de quebrar e os meus sentimentos em relação a elas são guardados em compartimentos protegidos a que volto uma e outra vez para limpar o pó e rearrumar memórias. É um processo que se desenrola entre o prazer de reviver momentos e um sentimento de falta. Uma espécie de doce tortura auto-infligida. Benvenuti a Roma!

Estive na capital italiana uma única vez na vida. Espero voltar. Nem que seja pela Dolce Vita e mais umas 10 razões que aqui deixo. São escolhas do coração, estômago e cérebro. Por esta ordem ou por outra.

Cappucino

6.7.11

Rumo a um restaurante em Roma

Via del Boschetto, Roma L'Asino d'oro, Roma

Chama-se L'Asino d'oro e é o restaurante do Chef Lucio Sforza. O nosso encontro podia bem nunca ter acontecido. Ao acaso, caminhamos pelas ruas do Monti (um dos rioni romanos) de volta para o hotel. Num dia de semana, a noite é animada. As ruas com muitas pessoas a caminhar, a beber um copo ou a jantar nas esplanadas mostram um lado da dolce vita que uma noite quente de Verão torna ainda mais dolce. Damos por nós a olhar para um restaurante com uma cabeça de burro desenhada sobre amarelo nos individuais colocados nas mesas. Talvez se o nome do Chef Lucio Sforza nos fosse familiar tivéssemos uma razão para parar. Não era e paramos na mesma. Há uma energia no lugar que nos faz decidir voltar no dia seguinte. É o que fazemos ao almoço, apenas para voltar no dia seguinte. E teríamos certamente voltado de novo (e de novo), não fosse dar-se o caso do nosso tempo em Roma ser muito curto.

L'Asino d'oro, Roma

1.7.11

Roma Bella e outras histórias

Roma Bella

Todos os caminhos vão dar a Roma. Todos, à excepção dos meus. A minha história de amor não correspondido com a capital italiana começa quando eu tinha 7 anos. Foi o ano em que os meus pais fizeram uma primeira grande viagem sem mim e o meu irmão. Foram a um país em forma de bota e a uma cidade chamada R-O-M-A. Dedos pequeninos sobre o mapa a percorrer a distância entre Évora, a nossa cidade, e Itália. Era muito longe. Mesmo assim posso ir? E lá vieram as explicações que alguém tinha de tomar conta dos gatos e dos cães. E dos avós. E ir à escola e outras coisas mais. Fiquei, claro. Mas sob protesto. Exigi muitas fotografias, um livro sobre Roma e vários boiões pequeninos de compota. E têm de ser de sabores diferentes! O meu irmão, mais preocupado com outras necessidades, pediu uma ambulância. Um e outro já com as suas prioridades bem definidas. No regresso, vimos os desejos satisfeitos. O meu livro era em castelhano (o que deu direito a um franzir de nariz) e os boiões eram só três. Desconfio que a ambulância do meu irmão, que fazia tinonin, era made in Portugal... Mas não tenho provas. O melhor foram as fotografias (que demoraram mais uma semana a revelar) e que nos fizeram viajar por lugares nunca vistos e outros quase reconhecíveis. Oh mãe, afinal Roma também tem um Templo como o nosso!

Não fui aos 7, nem aos 17 (altura em que o meu coração pertencia a Londres). Também não fui aos 27 (o meu "Período Espanhol") e antes que os 37 apareçam por aí, achei melhor ir agora. Encantei-me com uma Roma obscura, com as fachadas em ocre e alaranjado, com o chão empedrado e com a língua. Eu podia ouvir falar italiano um mês inteiro sem nunca deixar de sorrir!

Roma em volta do Campo d iFiori

5.11.10

Joie de vivre ou o Outono em Paris

Paris

Gosto de pensar que Paris também é um bocadinho minha. Pode ser a nesga entre as livrarias do Boulevard Saint German ou a passagem pelo Hôtel de Sully da Rue de Saint Antoine para a Place des Vosges. Ou as montras alinhadas de uma padaria perto do mercado da Rue Daguerre. Pode ser uma anglaise aux apricots ou um céu azul a perder de vista. Pode ser um bonjour! e um sorriso.

Não me move a presença do senhor Karl Lagerfeld a dois passos de distância a comprar revistas ou a dimensão avassaladora do Louvre e o sorriso da Mona Lisa. Não me perco pelo glamour da Place Vendôme. Não quero saber dos restaurantes da moda. Há uma Paris longe do bulício das zonas mais turísticas que eu quero que seja minha e essa não deixa nunca de me encantar. Abro uma excepção para a pirosa... Trop jolie! Símbolo de uma França moderna, a Torre Eiffel representa no inconsciente colectivo mundial a face de um país e um modo de estar na vida. É uma certa joie de vivre.

Les Jardins de Paris

Como de outras vezes, a cidade-luz esteve à altura do seu cognome e o sol foi-se mostrando. E as caminhadas fizeram-se em passo lento e com o casaco aberto, ao ritmo de um fim de semana prolongado e de vontades momentâneas. Seguimos sem grandes planos. Sentámo-nos em jardins pequenos, escondidos da confusão. Bebemos um café crème e descobrimos que é o mois de la photo em Paris e que hoje está um dia fantástico.

A cor das árvores e as folhas espalhadas faz do Outono em Paris uma das épocas mais bonitas do ano.

Fomos fotografando o caminho inexorável das folhas que caem das árvores e fazendo planos para um dia voltar. Não sei dizer quando e também não interessa. Fica-me a certeza de que na cidade em que não é estranho ouvir-se falar português nas ruas existe uma pequenina parte que é minha e que estará sempre lá quando eu voltar.

Outono em Paris // Autumn in Paris

28.10.10

No reino da Prússia com um prato de cogumelos

Berlim // Berlin 2007

A minha passagem pela capital Prussiana aconteceu há mais de 3 anos e foi marcada por trabalho, chuva e horas sem fim em aeroportos. E mais chuva. Chuva diluviana desde o momento em que cheguei até ao minuto em que o avião levantou. E durante as 6 horas e meia que esperei no aeroporto. As recordações que guardo de Berlim são cinzentas, molhadas e a solo. Fui sozinha e passei quase todo o tempo em reuniões e aulas. Obriguei-me a visitar a Porta de Brandenburgo e a aproveitar os minutos de acalmia para caminhar em volta do meu hotel. Não guardei no espaço resguardado da memória muitas recordações felizes de Berlim, à excepção de um prato de cogumelos com molho de iogurte e a gentileza dos meus colegas alemães que me pediam desculpa pelo tempo todos os dias e me ofereceram boleia a toda a hora. Prometi voltar em busca de condições meteorológicas mais clementes e para conhecer realmente a cidade. Espero que tal possa acontecer um dia destes. No entretanto, há duas razões para eu sorrir quando penso na Prússia: cogumelos com molho de iogurte e a Sofia. O Reino da Prússia é um blogue delicioso na escrita e na alma de quem faz da Prússia casa e cozinha com a família. Tenho a certeza que os cogumelos que comi são muito diferentes daqueles que foram hoje o almoço cá em casa mas é a minha memória de Berlim e quero partilhá-la enquanto canto os parabéns ao Reino da Prússia!

Cogumelos com iogurte // Mushrooms with yoghurt dressing
Cogumelos // Mushrooms

Cogumelos com bolinhos de batata e molho de iogurte
Adaptado ligeiramente de Sanjay Dwivedi, Harvest magazine, Waitrose Kitchen

2 porções individuais

para os bolinhos:
2 dentes de alho, esmagados com a faca
3 batatas médias (cerca de 350-400g)
1/2 colher (chá) açafrão das índias
1 colher (sopa) salsa picada
1 colher (sopa) óleo vegetal

para os cogumelos:
250g de cogumelos frescos (marrons, paris, etc.)
2 colheres (sopa) azeite
1/2 colher (chá) cominhos
1 cebola pequena, picada finamente
2 colheres (sopa) coentros picados

para o molho de iogurte:
125g iogurte grego
1 colher (chá) azeite virgem extra
pitada de paprika

Coza as batatas com os alhos e o açafrão das índias em água com sal durante 10 minutos. Escorra. Leve o tacho de novo a lume brando e esmague as batatas e os alhos. Deixe arrefecer ligeiramente e acrescente a salsa picada. Forme 4-6 bolinhos. [Prepare os cogumelos entretanto] Aqueça o óleo numa frigideira anti-aderente e coza os bolinhos 3 minutos de cada lado. Sirva com os cogumelos.

Aqueça o azeite numa frigideira grande e acrescente os cominhos. Junte os cogumelos fatiados e mexa por 2-3 minutos. Adicione a cebola e vá mexendo até os cogumelos estarem cozinhados (5 minutos). Polvilhe com os coentros.

Bata o iogurte numa pequena tigela. Regue com o azeite e polvilhe paprika. Sirva com os cogumelos e os bolinhos de batata.

15.9.10

Salmão teriyaki e céus dramáticos numa noite londrina

Salmon Teriyaki // SalmãoTeriyaki

A combinação é inusitada. Entre um salmão teriyaki e os céus conturbados de uma Londres à espera de chuva vai um mundo inteiro. Ou apenas o lampejo de uma memória. A marinada é japonesa e remete para terras longínquas onde frango, atum ou salmão são mantidos num banho escuro e pegajoso que carameliza quando se grelha ou assa. A vista é de Tower Bridge e encerra um dia de emoções e caminhadas memoráveis. Sabe-se lá que associações o cérebro faz e porquê. Estas pelo menos contam a história de um par de dias por Terras de Sua Majestade, um encontro com uma querida amiga e um prato de salmão do Provador num jantar a horas de lanche.

Tower Bridge by night
Supper // Jantar

Que eu tenho uma queda para as coisas afrancesadas, que gosto de comer biológico sempre que posso e que prezo sítios com uma filosofia de vida não é novidade. Que tudo isso pode ser encontrado em Covent Garden a preços aceitáveis já é menos expectável. Corridos pela chuva encontrámos um espaço onde jantámos às 6 da tarde. E gostámos! O pão e a manteiga, um crumble de ameixas e a descoberta das bebidas Luscombe foram agradáveis surpresas. Para a história fica um prato de salmão que de volta a casa deu azo a experimentações pelos sabores japoneses e a vontade de repetir.

Salmon Teriyaki // SalmãoTeriyaki

Salmão teriyaki

4 porções individuais

4 filetes ou postas de salmão (150-200g por pessoa)

para a marinada teriyaki:
80ml shoyu (molho de soja japonês)
50g açúcar mascavado
125ml vinho branco seco (ou 100 ml água + 2 colheres sopa mirin - vinho doce de arroz)

1 colher de chá gengibre fresco ralado (opcional)

Coloque o molho de soja, o açúcar mascavado, o vinho e o gengibre (se usar) numa tigela e misture para dissolver. Num saco limpo, deite a marinada e junte os pedaços de salmão. Feche o saco e vá virando para que todos os lados do peixe sejam marinados. Reserve por 30 minutos a uma hora.

Escorra e grelhe o salmão numa frigideira anti-aderente bem quente. Vire ao fim de 3 minutos e deixe grelhar mais 2 do outro lado. Sirva de imediato com legumes cozidos ou massa.

27.8.10

Reflexões sobre comida, hortas e hábitos alimentares

Ministry of Food - NO waste

A nossa alimentação tem-se alterado muito ao longo dos anos, fruto de avanços económicos e sociais, evoluções tecnológicas e mudanças culturais. De uma forma ou de outra, cada sociedade tem encontrado maneira de ultrapassar dificuldades, assimilar novos hábitos (nem sempre saudáveis) e reinventar aquilo que comemos todos os dias. Na minha recente passagem por Londres, não pude deixar de ver a exposição Ministry of Food, patente no Imperial War Museum e que mostra o modo como os britânicos responderam à falta de mantimentos durante a 2ª Grande Guerra e aprenderam a ser inventivos e a apreciar a frugalidade na ‘Frente' da cozinha. A partir de filmes, cartazes e reconstituições da época, a exposição é um testemunho do 'Ministério da comida' e das acções que se seguiram ao racionamento dos alimentos mas é também uma reflexão sobre a necessidade de cultivar a nossa própria comida, comer fruta e vegetais da estação e fazer escolhas conscientes enquanto consumidores, reciclar, poupar energia ou planear as refeições para reduzir o desperdício.

Rural London

A tradição dos allotments, similar às nossas hortas, tem sido reanimada com muitos londrinos a investirem o seu tempo nos jardins e terrenos que circundam as comuns casas inglesas. Nós por cá temos cada vez mais projectos de hortas comunitárias mas a cultura da terra, no duplo sentido, tem um longo caminho para andar num país que parece ainda caminhar em sentido contrário no que a esse respeito concerne. Paralelamente a esta discussão surge, como não pode deixar de ser, todo o contexto da sustentabilidade e dos comportamentos associados ao consumo de produtos alimentares, transportes, entre outros. Neste campo, vimos no Design Museum a exposição Sustainable Futures, onde projectos como Changing Habbits nos deixou a pensar... Quem tem os pés grandes e o bum-bum avantajado? ;)

St. James, London