26.7.24

{ Verão na Cidade } Pet Nat & Espumante Quinta da Lagoalva

Pet Nat & Espumante Lagoalva

Verão, calor e tardes a perder de vista junto ao Tejo pintado de mil tons de azul. O copo pede bolhas e recebe diferentes opções que se desenham na oferta da Quinta da Lagoalva apresentada à beira-rio e que estreia o novíssimo Pet Nat, com o rótulo a combinar com a cor da estação. Este espumante branco Pétillant Naturel traz consigo um método de produção que, apesar de ancestral, volta no presente a ser popular entre os produtores, apesar dos desafios que a sua natureza mais imprevisível coloca. Caracteriza-se por ser um vinho espumante natural de intervenção mínima, sem adições e não filtrado, que preserva os aromas naturais (bem como os sedimentos) e se torna mais expressivo imediatamente após a abertura. É no copo que o Lagoalva Espumante Pet Nat revela as suas castas, Arinto e Fernão Pires, e nos convoca para uma experiência frutada onde a frescura é rainha em virtude de uma acidez marcada. Pode não ser simples fazer este Pet Nat mas é muito fácil bebê-lo! 

Mas os adeptos da bolha fina têm no Lagoalva Espumante Reserva Bruto uma promessa de depuração e o perfil diferenciado de um vinho bruto. Mais refinado, floral e com boa persistência e volume de boca, é um vinho distinto quando comparado com um Pet Nat mais rústico e leve. Qual escolher? Em caso de dúvida, provar os dois e aproveitar o Verão.

22.7.24

Fire, Smoke & Wine Dinners: uma viagem por Vinhos a Sul do Tejo

Fire, Smole & Wine DInners

Com fogo, fumo e vinho se fazem encontros à volta da mesa em que a cozinha do chef Tiago Silva recebe produtores de vinhos no Hyatt Regency Lisboa. Os Fire, Smoke & Wine Dinners acontecem uma vez por mês e decorrem num espaço onde o forno de lenha se vira para a sala, com a garrafeira ao fundo e o Tejo ali ao lado. Os pratos constroem-se em torno de declinações do mesmo conceito Fumo, Fogo, Chama, Calor, Brasas, Forno e Lume e desafiam os vinhos a produzir um diálogo que convoque os comensais para uma discussão animada sobre a harmonização proposta. 

Nesta edição há uma viagem pelos Vinhos a Sul do Tejo que se faz em seis momentos à boleia de outros tantos vinhos, apresentados e explicados pelo sommelier Ivo Custódio, que responde a todas as perguntas de quem quer saber mais sobre cada garrafa e cada produtor. A conversa começa em modo de boas-vindas junto à garrafeira com um vinho de intervenção mínima, o Vale Capucha Branco Gouveio "Poço do Gado", fresco e salino, bem acompanhado com Flat Bread de Alho e Coentros e Pão Alentejano, Azeite e Orégãos

Já na mesa, e saindo da região de Lisboa, é através do vinho Horácio Simões, Tradição Branco, Fernão Pires e Arinto, 2022 que nos leva até Setúbal para descobrir esta casa histórica. Pela combinação de castas, apresenta-se intenso e frutado com uma acidez equilibrada e há-de mostrar-se capaz de dialogar com as três propostas de finger food que compõem o primeiro momento sentado do jantar.

Fire, Smole & Wine DInners
Fire, Smole & Wine DInners

Entre conversas, para comer com as mãos chegam à mesa: pão-de-ló com alface do mar e horseradish (Vieiras | Algas | Arroz Tostado), mini-brioches leves (Ovo | Brioche | Alfazema) e finas tartelettes com um pequeno toque de picante (Brócolos | Jalapenho | Pepino). As diferentes opiniões à volta da mesa quanto à melhor harmonização com o vinho atestam do acerto da escolha feita pelo chef Tiago Silva e fazem elevar as expectativas para o próximo prato, com um ingrediente que ninguém conhece: Yuba.

Trata-se da película que se forma na superfície do líquido aquando da fervura do leite que, no caso em apreço, tem por companhia fruta da época. Queijo Fresco | Yuba | Pêssego é uma feliz combinação que hesita entre a sobremesa pouco doce e o interlúdio salgado de uma noite de Verão. Um prato fantástico que encontra no vinho vindo do Alentejo um parceiro à altura: o Natalha Branco 2022 é fruto de uma técnica ancestral que remonta aos romanos e traz consigo uma persistência na boca e um vigor particular que contrasta com os sabores lácteos e frutados do prato. Uma preciosa maridagem!

Fire, Smole & Wine DInnersFire, Smole & Wine DInnersFire, Smole & Wine DInners

A segunda proposta a convocar a forte personalidade do Natalha Branco 2022 vem do mar, inspirada na costa vicentina, com ameixa do Alentejo, um bivalve saboroso e uma beldroega do mar (Lingueirão | Ameixa | Saltbush). Aqui a harmonização funciona em consonância entre iguais, com o prato e o copo a replicarem entre si aromas especiados e grande complexidade. Muito interessante o comportamento diferente do vinho em relação a um e outro prato, a abrir caminho para o que vem a seguir.

16.7.24

Vida nova e novos vinhos na Quinta do Sampayo

Quinta do Sampayo, Cartaxo

Vinhas, história e um legado familiar fazem parte da Quinta do Sampayo que, fruto da determinação de Ana Macedo e depois de 10 anos de pausa na produção, inicia uma nova era em que o passado se junta com o presente para desenhar o futuro. Se a memória da Quinta se encontra imortalizada na literatura de Almeida Garrett, que por lá repetidamente passeou, é também no seu percurso vínico que se inscreve a importância da propriedade. O trabalho de enologia pertence a Marco Crespo e o de viticultura está a cargo de Alberto Miranda, sendo o lançamento dos primeiros dois vinhos o culminar de um passo inicial para a construção de um portfólio alargado que represente o terroir e faça justiça ao potencial dos recursos naturais e humanos plasmados na representação dos rótulos (com design de Carolina Miranda).

Para descobrir nos diversos programas de enoturismo oferecidos, os diferentes patamares do terreno e as vinhas espalhadas pelos 90 hectares, divididos com o olival centenário de azeitona galega e a adega, e procurar os cedros que pontuam a paisagem. Das visitas às barricas de carvalho francês e americano na adega ao piquenique e caminhada nas vinhas, há ainda para descobrir os vinhos na prova e entrar na mente do enólogo para conhecer as castas tintas e brancas presentes na Quinta e a sua utilização no lote dos vinhos produzidos. 

Quinta do Sampayo, Cartaxo

27.6.24

Viseversa, a partilha de um menu "bistrô português" a olhar o Tejo

Viseversa Restaurante

Com o rio por companhia, chega-se ao restaurante Viseversa no Hyatt Regency Lisboa como a um porto de entrada em terra. A viagem leva-nos a uma experiência que mostra à mesa sabores portugueses tratados com técnica e estética de bistrô, num compromisso entre referências lusas e um imenso cuidado na confecção e empratamento. 

Fruto do percurso pessoal, vindo de uma família de cozinheiros, e do seu desenvolvimento profissional, o chef Tiago Silva apresenta uma carta de "bistrô português", disponível ao jantar, para picar e partilhar (ou não) que se baseia em receitas tradicionais para criar pratos contemporâneos. Este caminho é reforçado pela escolha de pequenos produtores portugueses sempre que possível e a busca de um sentido de território trazido para a mesa, por exemplo nos lacticínios que compõem o couvert ou a bonita Tábua de queijos Nacionais (em baixo), composta por queijos Ortodoxo (requeijão, queijo azul).  

Viseversa RestauranteViseversa Restaurante

O convite para picar e petiscar ao final do dia com o Tejo ali ao lado, seja na luminosa sala que o Viseversa ocupa, seja na ampla esplanada, é irrecusável e encerra múltiplas possibilidades, frias e quentes, de que se destaca o delicioso e fresco Robalo, Lima e Funcho, perfeito para a estação estival. Para os amantes das carnes, a carta oferece um Tártaro de Novilho que surge em virtude de uma utilização eficiente dos diferentes cortes no intuito de evitar o desperdício. Ainda na lógica das carnes frias o  Presunto Pata Negra vem acompanhado de uma pequena salada e uns irreverentes pistácios que trazem uma combinação curiosa entre o curado do presunto e a profundidade de sabor deste fruto seco.

Viseversa Restaurante
Viseversa RestauranteViseversa Restaurante

No domínio das propostas quentes para petiscar, dois incontornáveis pratos com créditos na gastronomia portuguesa de Norte a Sul e que fazem parte do imaginário colectivo: o Pica-pau do lombo de novilho e Gambas à Guilho.

20.6.24

Como celebrar 70 anos de história da Adega do Cartaxo

Adega do Cartaxo — 70 anos

Pode um terroir, uma história de 70 anos e um projecto feito de tradição e modernidade caber numa garrafa? A resposta chega em traje de festa e faz-se como comemoração do percurso produzido pela Adega do Cartaxo, desde a sua criação até ao tempo presente, do vinho a granel como ponto de partida até à afirmação da origem Cartaxo e à notoriedade da região. 
 
É com um vinho feito a partir das melhores barricas da colheita de 2015 que se constrói o 70 Anos DOC do Tejo Tinto 2015 e se celebram as castas que fazem do Cartaxo uma paisagem vínica particular, com 1954 garrafas a marcar a data de início da Adega do Cartaxo. Com um blend de cerca de 10 castas e 7 anos em garrafa, é a riqueza aromática que primeiro marca a relação com este vinho especial e se traduz numa experiência de encontro do presente com o passado, com um piscar de olho ao futuro, antecipando a longevidade e capacidade de guarda. 

Adega do Cartaxo — 70 anos

A evolução feita pela Adega do Cartaxo nas últimas décadas caracteriza um caminho marcado por decisões inovadoras, como a linha de varietais que surge no início do século com Castelão, Fernão Pires, Trincadeira, Cabernet Sauvignon e, mais tarde, Touriga Nacional. O espólio que fica pode agora ser apreciado com o relançamento a 20 de Junho, o Dia da casta Fernão Pires, do Bridão Fernão Pires branco 2007 (34€), com 17 anos de estágio, um vinho com evolução que mostra grande vivacidade nas suas notas limonadas e químicas (a lembrar os melhores Riesling), ainda com evidente frescura e volume de boca.

Para compreender o trajecto da Adega do Cartaxo nos monocastas, a prova do Fernão Pires branco 1999 mostra uma dimensão exuberante da casta após 25 anos em garrafa e o potencial dos vinhos desta região. Por comparação com o Bridão Fernão Pires branco 2007 verifica-se o carácter evolutivo da casta e uma longevidade capaz de oferecer uma experiência única.

Adega do Cartaxo — 70 anos

Mas a viagem pelo património da Adega do Cartaxo não se fica pelos brancos e continua pelos tintos, recuando até 1978.

7.5.24

Regenerar a alimentação, os lugares e as pessoas no festival "Soil to Soul"

Somos o que comemos, Alandroal, 25 e 26 de Maio 2024

Somos o que comemos. O adágio é milenar e, como princípio, impõe-nos uma necessidade de reflexão sobre o que consideramos alimento e como é produzido aquilo que comemos. No festival Soil to Soul celebra-se esse tempo para pensar e discutir o que nos dá sustento e energia e a ligação com a terra e a comunidade de uma agricultura mais respeitosa para com a natureza e o território. Criado por Thomas Sterchi, este movimento assume a saúde do solo como crucial para tornar sustentável a produção e consumo de alimentos nutritivos e configura-se como uma plataforma de conhecimento para produtores, chefs e consumidores na busca da "comida honesta", capaz de nutrir o solo e a alma.

É no coração do Alentejo, no Alandroal, que nos dias 25 e 26 de Maio tem lugar o festival, integrado na sabedoria de cuidar o solo e fazer da agricultura regenerativa um meio para mudar as circunstâncias, numa conexão entre cultura e gastronomia. Com a presença de chefs e a participação de restaurantes locais, está prometido um diálogo entre a cozinha tradicional e outras abordagens de restauração sustentável mais contemporâneas, entre conversas, músicas e muitas actividades para os mais novos.
 
Somos o que comemos, Alandroal, 25 e 26 de Maio 2024
Somos o que comemos, Alandroal, 25 e 26 de Maio 2024

No espírito do festival Soil to Soul, os ingredientes e produtos utilizados na confecção e na degustação dos pratos tem uma proveniência biológica, local e regenerativa, o que se estende também ao copo onde se podem encontrar vinhos de baixa intervenção e bebidas produzidas em modo bio. O palco está aberto a projectos conscientes e oradores com trabalho desenvolvido na área da gastronomia, como Olga Cavaleiro que traz a questão da identidade gastronómica e da paisagem comestível e descontroi a ideia de natural num mundo alimentar há milénios construído pelo ser humano. Será dela uma das conversas, juntamente com Esther Henneberke, da Climate Farmers e Mónica Tereno, da Cortes de Cima, herdade onde os vinhos Chaminé são feitos de forma holística, regenerativa e orgânica para que espelhar o Alentejo onde são produzidos.

Somos o que comemos, Alandroal, 25 e 26 de Maio 2024

16.4.24

Quinta das Carvalhas, uma sinfonia singular de vinhos

Quinta das Carvalhas, Real Companhia Velha

Parte do portfólio da Real Companhia Velha, a mais antiga empresa portuguesa de vinhos fundada no século XVIII, os vinhos da Quinta das Carvalhas trazem consigo uma promessa de elegância e distinção que assenta num terroir muito particular que tem no Douro a sua bússola. Entre as encostas e a margem do rio, com horas de luz sem fim e temperaturas muito altas, as vinhas da Quinta das Carvalhas desenham-se na paisagem em padrões diferenciados e distintas orientações, permitindo concretizar vinhos com características diversas mas donos de uma identidade muito própria.

Num arranjo harmonioso de referências, como uma sinfonia, os vinhos da Quinta das Carvalhas são como uma composição musical que se vai mostrando à medida que é desfrutada e que tem por trás uma orquestra completa, que garante que a experiência possa acontecer tal como foi concebida. Apresentados por Pedro O. Silva Reis, em representação da Real Companhia Velha, por Álvaro Martinho Lopes, responsável pela viticultura e Jorge Moreira, que dirige a enologia, os vinhos da Quinta das Carvalhas, com a sua dimensão vitivinícola e enológica, permitem provar um terroir com muitas nuances onde a geografia e o clima, as pessoas e a cultura do vinho, constroem uma delicada inter-relação.

Quinta das Carvalhas, Real Companhia Velha

A prova inicia-se com o Quinta das Carvalhas Branco 2022, um vinho que resulta de pequenas parcelas em alta altitude de Viosinho e Gouveio e que traz intensidade aromática e frescura. Sendo um vinho frutado e mineral, com muita crocância, mostra-se austero e com arestas que contribuem para a experiência plena de um branco cheio de Douro. Já o Quinta das Carvalhas Tinta Francisca 2020 é único na utilização em monocasta destas uvas nativas do Douro, o reconhecimento de um património genético singular, e traz consigo um perfil estruturado para um vinho delicado com notas de especiarias. Uma surpreendente nova face dos tintos do Douro!    

Com o Quinta das Carvalhas Vinha do Eirol 2021 marcamos encontro com os vinhos de vinhas velhas que são assinatura desta propriedade com vinha plantada nos anos de 1920 e grande variedade de castas. O perfil exótico deste vinho abre o leque da singularidade e carácter único dos vinhos das Carvalhas e é representativo da dimensão aromática da parcela. No que respeita ao Quinta das Carvalhas Reserva 2021 estamos perante uma nova declinação de Touriga Nacional, mais madura, que se traduz num tinto generoso. Esta inscrição identitária do Douro está também presente no Quinta das Carvalhas Vinhas Velhas 2020, um vinho com muita vida e energia que resulta de uma abordagem sustentável que visa a longevidade dos vinhos e quinta, com uma dimensão que é tanto ambiental, como social e económica. Para terminar. fazemos uma viagem com tempo e pelo tempo com o Quinta das Carvalhas Vinhas Velhas 2011, que com os seus 13 anos acumula juventude e vivacidade e proporciona uma experiência intemporal pelos terroirs da belíssima Quinta das Carvalhas. 

Quinta das Carvalhas, Real Companhia Velha

Mas como falar de Quinta das Carvalhas e da Real Companhia Velha e não falar em vinho do Porto?