27.11.13

Castanhas com açúcar e canela para um dia outonal na Herdade do Peso

Herdade do Peso, Vidigueira

O Alentejo é sinónimo de portas abertas e uma mesa sempre posta. Seja Verão ou Inverno, esteja calor ou frio, há na serenidade do campo, das casas e das pessoas uma mensagem de boas vindas sempre presente. Encanto-me com as cores da vinha. Quando visito a Herdade do Peso é a casta Syrah a mais exuberante a celebrar o Outono, num vermelho vibrante, acompanhada de perto por pinceladas mais claras de Aragonês.

Nas vinhas escreve-se a passagem do tempo, a meteorologia, a história da terra e a tradição de quem a habita. Uma paleta de ocres, alaranjados e vermelhos mais ou menos vivos pintam de cores diferentes, aqui e ali, a paisagem. Nas próximas semanas hão-de cair todas as folhas e a vinha há-de ganhar um ar despido. Por enquanto, e para minha delícia, é um sem fim de nuances outonais que emoldura o horizonte pelo Alentejo a dentro.

Fazemos um piquenique na vinha? A pergunta abre-me um sorriso largo no rosto. Em jeito de resposta afadigam-se as mãos para os cestos de pão, as empadas de galinha, a linguiça frita, o ananás com coentros e o queijo de cabra e ervas. Chego-me à frente e apenas resta uma garrafa de Vinha do Monte branco, que carrego de bom grado.

Herdade do Peso, Vidigueira Herdade do Peso, Vidigueira

Por entre vinhas em preparação, abre-se o vinho enquanto João Vasconcelos Porto, responsável pela viticultura da Herdade do Peso, explica as escolhas na selecção, cultivo e manutenção das vinhas e castas ali existentes. É a filoxera, a praga mais devastadora da viticultura mundial, que vem demonstrar o engenho humano na vinha e a resiliência dos produtores. A utilização de porta-enxertos, imunes à filoxera, permite contornar o problema. É na relação directa entre a viticultura e a enologia que desenham os vinhos, com nos explica o enólogo Luís Cabral de Almeida.

Na Herdade do Peso estão identificados cerca de uma dúzia de terroirs, áreas com características específicas que determinam o perfil e qualidade dos vinhos. As castas, na sua maioria tintas, são as já referidas Aragonês e Syrah, mas também Alicante Bouschet, Cabernet Sauvignon, Touriga Nacional e Petit Verdot e uma pequena quantidade de uvas brancas, Antão Vaz, Arinto e Chardonnay.

Estamos em Novembro e, embora o sol brilhe, já faz frio. Poucas coisas são mais reconfortantes que castanhas, quentes e boas, e um copo de vinho, desta feita tinto, um Herdade do Peso Colheita 2011. As castanhas com açúcar e canela são uma enorme surpresa e um acompanhamento perfeito para uma caminhada por entre as videiras e uma conversa animada sobre vinho.

Castanhas com açúcar e canela
Herdade do Peso, Vidigueira



A visita à adega é como entrar num laboratório de alquimia. Acho sempre que estes são lugares cheios de segredos, onde se destilam poções mágicas e se misturam ingredientes para momentos felizes.

São os aromas que me levam para longe, a imaginar viagens e aventuras. Ou talvez seja o vinho antes do almoço. Finco pé na primeira opção e lá vou reconhecendo os diferentes espaços onde o processo de transformação da uva em vinho acontece.

Herdade do Peso, Vidigueira Herdade do Peso, Vidigueira Herdade do Peso, Vidigueira
Herdade do Peso, Vidigueira

E é chegada a hora de almoço e a prova de vinhos tintos. Uma porta aberta deixa entrar o sol e convida-nos a entrar. Há mais uma mesa posta à nossa espera.

A gastronomia alentejana representa a terra e os ingredientes regionais fazendo uso de uma engenhosa forma de fazer mais com menos. A harmonização entre os diferentes vinhos da Herdade do Peso e as receitas tradicionais alentejanas confere sentido a toda a experiência, como se estivessem ali uns para os outros. Os pratos e os vinhos.

A sopa com pão torrado e cação, rica e densa, é consolo servido num prato. Muito característica do Alentejo, a sopa de cação é incontornável na gastronomia da região. A minha versão, com muito mais coentros, é bastante diferente da servida. Faço uma anotação mental para experimentá-la assim que se proporcione.

Herdade do Peso, Vidigueira Herdade do Peso, Vidigueira

Do prato principal, só a memória de um entrecosto com vinho tinto delicioso. Esquecimento meu, que entre conversa, comida e um excelente Reserva Tinto 2009 nunca mais me lembrei do registo fotográfico. De novo, culpe-se o vinho (que tem as costas largas) ou a cabeça noutro lugar da fotógrafa. De linda cor vermelho-escura e aroma intenso, o Reserva foi o meu vinho preferido do dia.

Para a sobremesa, de novo o Outono à mesa. Marmelos cozidos em xarope de açúcar e nozes. Se dúvidas houvesse, ei-las que se dissipam a cada garfada. Hei-de lembrar-me deste dia como o mais perfeito passeio outonal do ano.

Herdade do Peso, Vidigueira Herdade do Peso, Vidigueira

Um agradecimento a tod@s por este um dia fantástico. Em especial à Mafalda Guedes pelo convite e pela companhia, ao Luís Cabral de Almeida pelas histórias e por nos ensinar a olhar os vinhos a partir da vinha, ao João Vasconcelos Porto pela boa disposição, pelos esclarecimentos e respostas a todas as questões e ao Jorge Palha por nos guiar por entre as vinhas e pela infinita paciência para as minhas intermináveis fotografias (são do Jorge as mãos que seguram as castanhas com açúcar e canela). Muito obrigada!



Castanhas com açúcar e canela

serve 4

400 g castanhas descascadas (podem ser congeladas, à temperatura ambiente)
50 g açúcar granulado
1/2 colher canela em pó
150-250 ml óleo de amendoim (ou outro óleo vegetal)

Coloque o açúcar e a canela numa tigela e misture. Aqueça o óleo num tacho médio e frite as castanhas, por 2-3 minutos. Retire com uma escumadeira e escorra sobre papel absorvente. Passe cada castanha por açúcar e canela. Repita a operação até terminar as castanhas.

Sirva morno.