20.6.13
Ameixas com chouriço para uma prova de vinhos da Rioja e Rias Baixas
Gastronomia e vinhos. A denominação em separado aparece em quase todas as áreas, desde os livros às lojas, passando pelos autores. Chefs e escanções separados tantas vezes por interesses aparentemente diferentes, apostados em cumprir desejos e contar histórias quase sempre inseparáveis na mesa. Muitas culturas gastronómicas são indissociáveis dos seus vinhos. É o caso da portuguesa e da espanhola, para dar alguns exemplos. É no prato e no copo, e na relação entre os dois, que se escreve à mesa o nosso quotidiano. Uma vida contada nos afectos e nas lembranças do que se come e do que se bebe.
A minha aventura pelo mundo dos vinhos é uma aprendizagem continuada. Vou à descoberta de um lugar quase desconhecido. Quero saber mais. O meu plano é simples. Provar sempre, tomar atenção às perguntas de quem sabe, fazer notas mentais, aprender muito e apreciar o caminho. É assim na apresentação da Sogrape , com as enólogas Luísa Freire e Maria Barúa no Tágide Wine & Tapas Bar. À prova, um branco das Rias Baixas de Santiago Ruiz e quatro tintos da Rioja das Bodegas LAN.
No desafio eterno de acompanhar vinhos, algumas tapas e petiscos tomam lugar junto de cestos com pão, pratos com fruta, queijo e chocolate. Fico perdida de amores por uns figos secos recheados com salpicão, em que o doce e o salgado têm um encontro feliz. Já em casa, quero replicar os sabores. Sem os mesmos ingredientes disponíveis, são uma ameixas secas com chouriço fininho que fazem as vezes. A combinação resulta equilibrada. Tenho um novo aperitivo no meu reportório.
Mas voltemos aos vinhos. Primeiro, um Rias Baixas albariño de Santiago Ruiz. Pela mão de Luísa Freire vou descobrindo um vinho rico em aromas onde encontro uma nota de mineral que me conquista. Bebo enquanto pergunto pelo curioso rótulo, um mapa desenhado a preto à mão levantada. A história, quase lenda, é que se trata da cópia do mapa que acompanhava o convite de casamento da filha de Santiago Ruiz que teve lugar n'O Rosal e que acabou por ser adoptado como assinatura para o vinho. De novo os afectos a servirem de fio condutor. Eu que não sou aficcionada de brancos, gosto muito do único presente. Talvez tenha sido o rótulo, as palavras de Luísa ou o fim de tarde quente. É um vinho que quero encontrar de novo.
Depois os tintos da Rioja DOC. Aproveito a "boleia" do jornalista e crítico de vinhos Fernando Melo na conversa com Maria Barúa. As castas, Tempranillo, Graciano, Marzuelo. As especificidades da produção. A região, as vinhas. Muita informação. Estou fora de pé. E a gostar. Aprendo sobre a denominação crianza (que significa criação) e que identifica os vinhos que passaram por um processo de envelhecimento, uma parte deste em barricas de carvalho. A lei é rigorosa e regula de forma clara a utilização da denominação. Tudo na Rioja cumpre um estrito conjunto de regulamentações que garantem a certificação como Denominação de Origem Controlada. Provo um LAN Crianza 2009, um monocasta Tempranillo que me dizem vai bem com pratos de arroz e massa. Em seguida, o LAN-D12 que sou aconselhada a provar com um queijo e a apreciar o final, um "fim de boca" longo. Muito interessante.
Entre conversas sobre memórias associadas ao vinho e a sensação final que o vinho deixa na boca, chegamos ao meu eleito da tarde: o LAN A Mano, um vinho com personalidade capaz de encher a mesa. Gosto especialmente das nuances apimentadas e da promessa deixada pela cor forte que fica no copo depois de agitar. Daqui, seguimos para o vinho premium das Bodegas LAN. O Culmen Reserva é produzido apenas em anos excepcionais. Provamos o de 2007. Até para quem como eu não tem conhecimentos avançados sobre vinho, é evidente a dimensão deste vinho especial. Vou seguindo o melhor que posso as diferentes camadas de aroma e paladar. Há uma complexidade no meu copo que sei não compreender completamente. Decido que o melhor é apreciar este vinho especial de coração aberto e com o cérebro em velocidade de cruzeiro. Sinto-me preenchida. Afinal um vinho destes é também todos os mistérios que encerra.
Ameixas com chouriço
serve 4-6, como aperitivo
12 ameixas secas (de boa qualidade), sem caroço
12 fatias de chouriço, fininhas e sem pele (usei de porco alentejano)
Abra as ameixas ao meio, coloque uma fatia de chouriço e volte a fechar. Repita para as restantes. Disponha num prato com folhinhas de hortelã para decorar (opcional).