11.2.15

Bolinhos de aveia, arroz e café para todas as horas

Bolos de aveia, arroz e café

Das vontades impreteríveis, os vícios são as mais visíveis das quotidianas tentações. É ao café que entrego o desejo diário de conforto e energia e não imagino os dias a começarem sem ele. Devo às mulheres da minha família os rituais em redor da cafeteira, a partilha de conversas no final de cada refeição que nunca ficava completa sem café, mesmo quando não havia bolo. Descobri cedo que prescindia do açúcar, escolha que não lhes consegui passar. Mas para mim o café sempre foi uma bebida solar. A bem do sono e do descanso.

Por culpa da sua má fama, muitas vezes merecida, os descafeinados nunca fizeram parte da minha rotina. E se o meu café preferido pudesse um dia ter uma versão sem cafeína? A proposta tentadora era do domínio do desejo e pareceu improvável durante muito tempo. Até que surgiram os decaffeinatos da Nespresso com a promessa de não se conseguir descobrir a diferença. Assim uma espécie de alter-ego do café original, com as suas característica intactas mas sem a cafeína.

decaf Bolos de aveia, arroz e café

Descobrir as diferenças entre o original e o seu alter-ego é como ir passando por versões mais ou menos semelhantes de algo reconhecível, onde se encontram múltiplos do mesmo ser. Quer porque o essencial se mantém e apenas muda o acessório, quer porque se encontra diferentes facetas da mesma realidade. Lá vou pensando nesta coisa do "outro eu".

Posta à prova numa noite fria, foi no Feitoria e pela mão do chef João Rodrigues que durante o jantar se discutiu a ideia de alter-ego na cozinha: pratos que parecem ser o mesmo, ingredientes que podem ser cozinhados de diferentes formas, variações em torno de um mesmo elemento e algo que parece que é mas não é. Para a memória, uma certa tangerina, desde logo apresentada como falsa.

Feitoria, Altis Belém



Servida num bonsai, a falsa tangerina feita com uma "casca" de chocolate branco e com um coração de sumo, seria a pré-sobremesa de um jantar repleto de alter-egos: um carabineiro com dupla identidade e um bacalhau à brás, desconstruído, terminado por cada um à mesa, a que se seguiu uma vitela em duas confecções. Depois, a surpreendente tangerina e uma explosão de chocolate, fava tonka, caramelo e flor de sal à sobremesa. Para o café, os alter-ego volluto e arpeggio e uns petit fours onde brilhou uma tuille de sementes.

Feitoria, Altis Belém Feitoria, Altis Belém Feitoria, Altis Belém

Bolinhos de aveia, arroz e café

serve 10-12

2 ovos, ligeramente batidos
175 g açúcar amarelo
100 g manteiga, à temperatura ambiente
125 ml café forte, arrefecido (usei duas cápsulas de Nespresso arpeggio decaffeinato
100 g nozes, picadas
180 g farinha arroz
50 g farinha aveia
2 colheres (chá) fermento em pó
pitada de sal
1/2 colher (chá) canela em pó

para o crumble:
50 g farinha arroz
35 g manteiga
2 colheres (sopa) açúcar branco
1 colher (sopa) café forte

Pré-aqueça o forno a 180ºC. Prepare a forma (quadrada ou rectangular), forrando-a com papel vegetal ou, se preferir, utilize formas individuais (cerca de 16-18, dependendo do tamanho).

Faça o crumble: numa picadora, processe a farinha com a manteiga. Junte o açúcar, salpique com o café e mexa com um garfo, para formar alguns grumos.
Bata o açúcar com a manteiga, até obter uma mistura clara (5 minutos). Acrescente os ovos, aos poucos, enquanto bate devagar. Adicione o café e mexa. Envolva as farinhas, o fermento em pó, o sal, as nozes e a canela. Deite na forma preparada. Cubra o bolo (ou distribua pelos bolos individuais) com o crumble. Leve ao forno 50-55 minutos (ou 40-45 minutos no caso dos bolinhos), até um palito sair seco.

nota: usei fatias de laranjas mini para decoração (opcional).