31.10.15

{EAT OUT LISBOA} E se o jantar for numa oficina de automóveis?

Eat Out Lisboa, Garagem Auto Palace

Comer em lugares inusitados como fábricas ou igrejas e sair do conforto dos espaços tradicionalmente reservados às refeições parece desenhar uma das mais curiosas tendências actuais da gastronomia. Mesas postas em salas de museus, pratos servidos em escolas, sítios totalmente improváveis são pretexto para conhecer novos espaços e aceitar o desafio de pensar a comida num contexto diferente. É esta a proposta do EAT OUT LISBOA que junta inúmeros chefs e restaurantes na Garagem Auto Palace junto ao Largo do Rato.

Vamos jantar numa oficina? A pergunta é feita entre o divertido e o ansioso e a resposta é convicta. Vamos! Mas não numa garagem qualquer. O edifício é de 1906 e a sua estrutura metálica foi projectada por Gustave Eiffel, mantendo a magnificência da sua bonita fachada. Entre carros e muita história, provamos o ceviche do chef Kiko Martins, a lasanha de lebre do chef Bertílio Gomes ou o delicioso sushi do chef Daniel Rente (em cima) à boleia de uma Estrella Damm.

Eat Out Lisboa, Garagem Auto Palace Eat Out Lisboa, Garagem Auto Palace

No Mercantina, uma paragem para o Risotto de tomate mantecato com burrata de bufala campana e um olhar guloso ao Clássico Tiramisú ao café, enquanto passamos ao Ceviche Puro d`A Cevicheria e ao Taco de Tártaro d' O Talho com o chef Kiko a supervisionar, e que são apostas seguras para acompanhar um copo de Inedit Damm, a minha cerveja favorita, com assinatura de Ferran Adrià.

Eat Out Lisboa, Garagem Auto Palace Eat Out Lisboa, Garagem Auto Palace
Eat Out Lisboa, Garagem Auto Palace
Eat Out Lisboa, Garagem Auto Palace

Para os amantes, a Ostraria serve umas ostras ao natural excelentes. Para os mais carnívoros, a lasanha desconstruída de lebre é uma das propostas do chef Bertílio Gomes, do restaurante Chapitô à Mesa, onde também se podem encontrar os seus gelados Ice Gourmet. Mais uns passos e logo ali, as Iscas de Pato com cebolinhas agridoces com torradas de brioche da chef Marlene Vieira e do chef João Sá. A não perder também o Burguer de Caranguejo casca mole em pão de hambúrguer de camarinha com chips de batata doce, do Prego da Peixaria pela mão do chef Luís Barradas.

Eat Out Lisboa, Garagem Auto Palace Eat Out Lisboa, Garagem Auto Palace

O EAT OUT LISBOA decorre hoje até às 2h da manhã e até Domingo dia 1 de Novembro, das 12h às 00h, na Auto Industrial - Garagem Auto Palace, perto do Largo do Rato em Lisboa.

29.10.15

Gratinado de polenta e vegetais e uma descoberta

Gratinado de polenta e vegetais

Todos os dias encontro coisas novas em Lisboa. Viver numa cidade grande é como entrar numa longa metragem de cada vez que se sai à rua. Descoberta última, feita à custa de explorar uma parte da cidade onde normalmente não se passa: há galos e galinhas em liberdade, a passear descansadamente no Campo Mártires da Pátria.

Foi num Domingo pela manhã, a caminho de um almoço ali por perto. Na praça ampla desenha-se um jardim, com lago e tudo. Pelos bancos aproveita-se o sol tímido enquanto cada cão e o seu dono passam uma e outra vez sem interromper as rotinas dos galináceos. São poucas as galinhas e muitos galos, com as suas penas reluzentes e de crista ao alto, nenhum deles especialmente interessado nos traseuntes mais ou menos habituais do jardim ou em quem não resiste a mais uma fotografia.

Galos e galinhas, Campo Mártires da Pátria Gratinado de polenta e vegetais

Ainda a pensar no encontro com os galos, reconheço nos ingredientes em cima da bancada as mesmas cores de festa. Verde e vermelho, castanho e dourado. O nosso jantar há-de ser polenta no forno, numa cruza entre pizza e gratinado, para comer à mão ou de faca e garfo. As últimas curgetes e os ultímos tomatinhos, acompanhados de cebola roxa e queijo mozzarella, numa base de polenta tostadinha.

Para celebrar as temperaturas ainda amenas apesar da chuva, um branco do Douro que boa companhia nos fez neste Verão. Este vinho Santos da Casa Colheita Douro DOC Branco tem a assinatura do enólogo Helder Cunha e funcionou na perfeição com o gratinado de polenta e vegetais.

Gratinado de polenta e vegetais Santos da Casa Colheita Douro DOC Branco

23.10.15

{Restaurant Week} Do Chiado à Avenida e até ao Terreiro do Paço

Restaurant Week, U Chiado

Ir à descoberta e calcorrear caminhos percorridos uma e outra vez pode levar-nos ao encontro de lugares novos e ao retorno feliz a velhos conhecidos. Pelo Chiado, com o som de fundo do eléctrico e a luz reflectida pelo rio ao fundo da rua, vou em passo apressado conhecer a nova edição da Restaurant Week. Pretexto para ir finalmente conhecer restaurantes de topo ou experimentar novos conceitos.

A minha aventura começa no U-Chiado, onde já estive várias vezes. Entre lindos candelabros, numa sala com muita luz, mesas postas para uma entrada onde a sopa tem lugar marcado. O Creme de mexilhão com manjericão é a forma perfeita de iniciar uma refeição, com o conforto sempre bem-vindo de umas colheradas cheias de sabor, equilibradas pela textura do mexilhão e por um fio de azeite. Conversas sem fim, com um copo de vinho a acompanhar, fico a sonhar com um certo Crème brûlée de figos secos e Vinho do Porto.

Restaurant Week, U Chiado Restaurant Week, Tabik Restaurant Week, Tabik

Em busca do prato principal, sempre a direito até à Avenida da Liberdade, onde o Tabik Restaurant sob a direcção do chef Manuel Lino abriu recentemente. Num espaço bem conseguido cheio de pormenores deliciosos, com mesas de madeira a contraporem novas cores às paredes cobertas de vegetação e às cadeiras desencontradas. No prato um Rabo de Boi com puré de cherovia e chalotas onde um apontamento de gengibre vem trazer frescura a uma combinação muito outonal. Uma passagem breve por um espaço a que apetece voltar muitas vezes e explorar com mais calma.

Já com a sobremesa no horizonte, Rossio à frente a caminho do Terreiro do Paço. É lá que fica o Aura Lounge Café, ali bem junto ao Pátio da Galé, com a sua esplanada muito convidativa em dias de sol. Pétalas de rosa para uma sobremesa muito bonita, Trilogia de mousse que há-de fazer felizes todos os chocolátras (e outros gulosos). Quero acreditar que a Pêra folhada, a outra sobremesa no menu Restaurant Week, foi feita a pensar em mim. Com a redução de vinho no interior e uma colherada de creme custard era tudo o que me apetecia para finalizar a refeição.

Restaurant Week, Aura Restaurant Week, Aura Restaurant Week, Aura

A Restaurant Week é uma iniciativa que volta a restaurantes de todo o país até 1 de Novembro, abrindo as portas de mesas conhecidas a preços acessíveis. 20 € por entrada, prato e sobremesa com 1€ por cada menu a reverter para causas solidárias.

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U Chiado
Largo do Picadeiro - 8A,
1200-026 Lisboa

Tabik Restaurant
Av. da Liberdade 41,
1250-140 Lisboa

Aura Lounge Café
Terreiro do Paço - Praça do Comércio,
1200 Lisboa

14.10.15

Forno d'Oro, a Vera Pizza Napoletana em Lisboa

Forno D'Oro, chef Tanka Sapkota

Das muitas comidas que ultrapassam fronteiras nacionais e crescem no coração de outras cidades como bandeira do seu país de origem, a pizza talvez seja a mais emblemática. Uma fatia (ou duas) e estamos de volta a Itália, partilhando tradições de uma cultura gastronómica rica em história e estórias. O Forno d'Oro é um retorno à mesa italiana, onde os ingredientes certificados e a massa feita de acordo com os preceitos da Vera Pizza Napoletana ocupam um lugar central. Uma das vantagens de morar perto é poder desde o primeiro momento apreciar com facilidade aquela que é certamente uma das melhores pizzas em Lisboa.

O maior reconhecimento do trabalho do chef Tanka Sapkota veio recentemente com a distinção atribuída pela Associazione Verace Pizza Napoletana, o galardão máximo no universo das pizzas. Numa breve passagem pela evolução da pizza, primeiro sem tomate e sem queijo, depois com alho e ervas, em seguida com tomate fresco, até chegar à pizza como a conhecemos hoje.

Forno D'Oro, chef Tanka Sapkota Forno D'Oro, chef Tanka Sapkota Forno D'Oro, chef Tanka Sapkota Forno D'Oro, chef Tanka Sapkota Forno D'Oro, chef Tanka Sapkota

Percorrendo as propostas do chef Tanka Sapkota compreende-se o enorme respeito pela melhor tradição dos pizzaiolos napolitanos, a começar na maravilhosa massa com fermento natural, o que a torna leve e de digestão fácil, até à perfeita combinação de sabores italianos em velhas conhecidas, como a Vesúvio ou a Diavola. Mas na carta do Forno d'Oro há ainda lugar para um piscar de olho aos sabores lusitanos, com reinterpretações inteligentes e muito bem conseguidas. Uma das favoritas de sempre é a Transumância, homenagem ao interior do país, com o Alentejo a encontrar o queijo de Seia numa pizza de sabor intenso mas equilibrado. Bravo!

Se estas não são razões suficientes, há ainda uma carta de cervejas artesanais para explorar. Com presença em força das cervejas italianas, importadas directamente, encontram-se também outras origens e uma oferta diversificada onde até palatos pouco sofisticados como o meu encontrarão uma cerveja para si. Muito curiosa esta harmonização entre produtos fruto da fermentação, com a cerveja e o massa da pizza em primeiro plano. Por altura da sobremesa e já sem estômago para mais, um leve sorvete de limão ou, para os mais corajosos, o óptimo tiramisú.

Forno D'Oro, chef Tanka Sapkota

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Forno d'Oro
Rua Artilharia 1, 16B
Lisboa

9.10.15

Salteado asiático de cogumelos e massa de ovo

Salteado de cogumelos e pimentos com massa de ovo

Primeiro um, depois outro e outro. Na cidade grande onde o tempo não pára para coisas como a mudança das estações ou os humores dos seus habitantes, as cores mudam sem pedir licença. Entre ventanias, bátegas de água e dias nublados, desenha-se um Outono que queremos seja do nosso contentamento. Olhar em volta e notar as diferenças na paisagem urbana é uma das pequenas maravilhas de todos os dias. O momento mágico em que se dá o aparecimento de cogumelos depois das primeiras chuvas nunca deixa de me surpreender.

Sem prestar atenção ao calendário, os pimentos vermelhos e os (últimos) tomates insistem em dividir o espaço na bancada com os marmelos e as abóboras. São combinação perfeita para os cogumelos shiitake cuja produção em Portugal subiu em flecha nestes últimos anos. Acessíveis nos mercados e supermercados, estes cogumelos remetem para o Japão mas o seu sabor característico adapta-se muito bem a outras influências.

Salteado de cogumelos e pimentos com massa de ovo Salteado de cogumelos e pimentos com massa de ovo

Um dia damos por nós a gostar de ingredientes ou comidas às quais, por desdém ou simples implicação, sempre torcemos o nariz. Cá em casa, descobrimos os caminhos para os supermercados asiáticos e aceitámos há muito os encantos dos sabores que vêm de longe. Molhos diversos, vegetais menos comuns, especiarias mil e o fiel wok.

Na corrida dos almoços de semana, feito em três tempos e outras tantas mexidelas assim se faz esta receita. Da intersecção das estações, o melhor dos verões e o mais promissor dos outonos. Pimentos vermelhos e cogumelos, à boleia de massa de ovo e amendoins torrados. Tragam os pauzinhos, as taças estão servidas.

Salteado de cogumelos e pimentos com massa de ovo

6.10.15

Quadrados de polenta e limão (e un buon caffè)

Bolo de polenta e limão (com café)

Parte indissociável da cultura italiana, o café faz parte da paisagem urbana de qualquer cidade em Itália, tal como a comida, tornando cada uma única e inesquecível. Doppio, cappuccino, caffé latte, latte macchiato, marocchino... É possível encontrá-los ao balcão ou servidos à mesa, cada um visto como mais adequado a esta ou aquela hora do dia, numa série de rituais repetidos com fervor e inscritos ao longo da vida no ADN gastronómico de cada italiano. Numa homenagem dupla a esta grande paixão pelo café, a Nespresso presta tribute to Milano e Palermo com a sua mais recente limited edition.

Com as diferenças entre as tradições do Norte e do Sul a serem muito visíveis nos rituais em torno do café de cidades como Milão e Palermo, também o gosto particular de cada um se expressa em dois cafés intensos mas de características diversas. Enquanto Milano é elegante e suave, bebido ao balcão num curto mas inspirador momento, Palermo é rico e picante, encorpado e poderoso, tomado à mesa com todo o tempo do mundo. Perco-me de amores por este tribute to Milano e não consigo deixar de imaginá-lo em boa companhia, com um quadrado de polenta e limão.

Bolo de polenta e limão (com café) Bolo de polenta e limão (com café)

Certos ingredientes levam-nos de imediato para outro país. Na minha mente, repleta de memórias de viagens passadas em turbilhão, polenta é sinónimo de Itália. A sua cor amarela e textura mais ou menos presente é bilhete de ida para Norte ao encontro de uma combinação clássica. Polenta e limão são utilizados em conjunto em muitos pratos mas é em forma de bolo que hoje se juntam. Por ser feita a partir do milho, a polenta não tem glúten, o que torna esta receita ideal para intolerantes ou pessoas com dietas sem este componente. Mas é o sabor forte a limão que primeiro se destaca assim damos a primeira dentada. Entre um gole de café e outro, é quase (quase) como estar em Milão com a vibrante cidade à nossa espera e a promessa de glamour em cada canto.

Prendiamo un caffè?

Bolo de polenta e limão (com café)

2.10.15

{Come como um Galego} Pão, sardinhas e uma tarte de Santiago

Come como um galego, Galiza em Lisboa

A partilha cultural entre o Norte de Portugal e a Galiza é visível a cada palavra dita de forma semelhante e a cada olhar coincidente sobre uma região que atravessa dois países onde a comida desempenha um papel central na vida de todos os dias. Do mar à montanha, com a pesca artesanal e o cultivo sustentável da terra como mais-valias, são os produtos que falam por si. Peixe e marisco da costa galega, pão feito com água do mar, legumes e leguminosas características da região ou os doces tradicionais são testemunhos da importância que a mesa tem para os galegos e que reconhecemos nas nossas próprias tradições.

Come como um Galego. O mote é dado pelas palavras escritas na madeira que leio uma e outra vez à chegada ao Centro Galego de Lisboa onde o cheiro a marisco fresco e os sabores cruzados da terra e do mar me levam de volta às Rias Baixas e ao primeiro encontro que tive com a gastronomia galega numa visita muito especial que fiz à Galiza há uns anos.

Come como um galego, Galiza em Lisboa Come como um galego, Galiza em Lisboa

Os pratos que saem da mão da chef Lucia Freitas, com a ajuda do chef Miguel Mosteiro, contam a história de um caminho onde o respeito pelas tradições, o retorno a um modo de fazer centrado na qualidade (e não na quantidade) encontra na pescadeRías um parceiro perfeito. Este projecto procura dar a conhecer e certificar o peixe proveniente da frota artesanal galega, mostrando o seu valor económico e social e também a maior diversidade e sustentabilidade desta pesca.

E porque uma mesa galega só fica completa se houver vinho, o escanção Nacho Costoya apresenta as principais regiões vinícolas da Galiza e o trabalho desenvolvido pelos produtores, enquanto antevemos a maridaje perfecta entre produtos de Portugal e da Galiza, numa união gastronómica muito curiosa. A vieira de pescadeRías, pataca de Galiza e porco celta harmoniza com um branco D.O. Rías Baixas, com o alvarinho a fazer-se notar compensando em acidez o doce da vieira, numa combinação bem sucedida. Numa homenagem às sardinhas que dão alma ao nosso São João do Porto, a chef Lucia Freitas ensaia uma versão de tosta de pão de milho com cebola e azeitonas, uma pasta de pimento verde assado que serve de base a um filete cozinhado a baixa temperatura e fumado com alecrim antes de servir: a sua sardinha de San Juan vem acompanhada de um tinto D.O. Ribeira Sacra com personalidade.

Chegada a hora da sobremesa, uma deliciosa tarta de Santiago com ameixas e gelado de leite de amêndoas. É com sentimento que Lucia fala da sua cidade, Santiago de Compostela, e dos muitos sucedâneos desta tarte que vão sendo oferecidos aos visitantes, pelo que importa referir a importância da certificação de origem controlada para um doce que manda a tradição é feito apenas com amêndoa, sem farinha ou qualquer gordura.

Come como um galego, Galiza em Lisboa Come como um galego, Galiza em Lisboa

Como sempre, quando nos deixamos viajar no prato e no copo encontramos terras distantes ao alcance da mão. Esta mostra da Galiza em Lisboa permitiu reforçar as ligações entre duas mesas onde os pontos de contacto são tantas vezes frequentes: uma juntanza gastronómica que para além de muito enriquecedora pode ainda ser muito saborosa. Na vontade fica o desejo de voltar a terras galegas e a promessa de ir conhecer o caminho de Santiago.

¡Hasta pronto, Galicia!