2.10.15
{Come como um Galego} Pão, sardinhas e uma tarte de Santiago
A partilha cultural entre o Norte de Portugal e a Galiza é visível a cada palavra dita de forma semelhante e a cada olhar coincidente sobre uma região que atravessa dois países onde a comida desempenha um papel central na vida de todos os dias. Do mar à montanha, com a pesca artesanal e o cultivo sustentável da terra como mais-valias, são os produtos que falam por si. Peixe e marisco da costa galega, pão feito com água do mar, legumes e leguminosas características da região ou os doces tradicionais são testemunhos da importância que a mesa tem para os galegos e que reconhecemos nas nossas próprias tradições.
Come como um Galego. O mote é dado pelas palavras escritas na madeira que leio uma e outra vez à chegada ao Centro Galego de Lisboa onde o cheiro a marisco fresco e os sabores cruzados da terra e do mar me levam de volta às Rias Baixas e ao primeiro encontro que tive com a gastronomia galega numa visita muito especial que fiz à Galiza há uns anos.
Os pratos que saem da mão da chef Lucia Freitas, com a ajuda do chef Miguel Mosteiro, contam a história de um caminho onde o respeito pelas tradições, o retorno a um modo de fazer centrado na qualidade (e não na quantidade) encontra na pescadeRías um parceiro perfeito. Este projecto procura dar a conhecer e certificar o peixe proveniente da frota artesanal galega, mostrando o seu valor económico e social e também a maior diversidade e sustentabilidade desta pesca.
E porque uma mesa galega só fica completa se houver vinho, o escanção Nacho Costoya apresenta as principais regiões vinícolas da Galiza e o trabalho desenvolvido pelos produtores, enquanto antevemos a maridaje perfecta entre produtos de Portugal e da Galiza, numa união gastronómica muito curiosa. A vieira de pescadeRías, pataca de Galiza e porco celta harmoniza com um branco D.O. Rías Baixas, com o alvarinho a fazer-se notar compensando em acidez o doce da vieira, numa combinação bem sucedida. Numa homenagem às sardinhas que dão alma ao nosso São João do Porto, a chef Lucia Freitas ensaia uma versão de tosta de pão de milho com cebola e azeitonas, uma pasta de pimento verde assado que serve de base a um filete cozinhado a baixa temperatura e fumado com alecrim antes de servir: a sua sardinha de San Juan vem acompanhada de um tinto D.O. Ribeira Sacra com personalidade.
Chegada a hora da sobremesa, uma deliciosa tarta de Santiago com ameixas e gelado de leite de amêndoas. É com sentimento que Lucia fala da sua cidade, Santiago de Compostela, e dos muitos sucedâneos desta tarte que vão sendo oferecidos aos visitantes, pelo que importa referir a importância da certificação de origem controlada para um doce que manda a tradição é feito apenas com amêndoa, sem farinha ou qualquer gordura.
Como sempre, quando nos deixamos viajar no prato e no copo encontramos terras distantes ao alcance da mão. Esta mostra da Galiza em Lisboa permitiu reforçar as ligações entre duas mesas onde os pontos de contacto são tantas vezes frequentes: uma juntanza gastronómica que para além de muito enriquecedora pode ainda ser muito saborosa. Na vontade fica o desejo de voltar a terras galegas e a promessa de ir conhecer o caminho de Santiago.
¡Hasta pronto, Galicia!