12.5.17
{ Lisboa } Do Varanda do Hotel Mundial à cave de vinhos do Hotel Portugal
Se Lisboa precisasse de mais uma declaração de amor, as palavras que se seguem serviriam bem o propósito. Se fosse o coração a guiar-me hoje seria o dia em que estas linhas ajudariam a relembrar os mais esquecidos da benção que é viver aqui ou explicar aos distraídos porque devem querer conhecer melhor a cidade das mil cores que, dizem, se espalha por sete colinas. Porque a minha bússola é o estômago, embarco numa viagem gastronómica que se esconde bem no centro da nossa geografia e que carrega a história de muitas gerações de lisboetas e outros apaixonados por Lisboa. Deixo o Rossio ali ao lado e chego ao Martim Moniz já o sol vai alto. No topo da praça fica o Hotel Mundial onde me espera um almoço com vista privilegiada e muitas estórias para contar no restaurante Varanda de Lisboa.
As janelas que se abrem sobre uma tela de cores esbatidas que se estende do Castelo até ao Carmo são assinatura de um espaço onde um serviço de sala muito especial é parte da experiência. No Varanda de Lisboa mantém-se a tradição de cozinhar na sala. Dos dias de festa onde há crepes Suzette, finalizados à mesa, ao sempre presente carro de sobremesas de todos os dias onde cada um escolhe a sua dose de doçura para terminar a refeição, até ao cuidado na hora de aconselhar o vinho.
No dia em que a entrada de espargos com maionese de caril me sorriu assim que abri a carta havia nuvens num céu quase azul e um monocasta viosinho D. Graça no copo, fruto da magia que só os escanções fazem e que os leva a saber antes de nós próprios o que nos apetece beber. As tradições são tratadas com carinho no Varanda de Lisboa e enquanto decido o que comer chega à mesa o couvert (que é sempre oferecido) e um mimo do chef. Decido-me por um espadarte grelhado com sésamo e lima e deito o olho (e mais tarde o garfo) ao porco com mostarda da minha simpática companhia de almoço. Com uma cozinha tradicional cuidada, o Varanda de Lisboa segue a sazonalidade dos produtos que fazem da gastronomia portuguesa um infindável território a explorar. Há lampreia e sável enquanto for tempo deles e nunca falta o bacalhau. A triologia do mesmo é uma das razões porque quando se quer mostrar Lisboa a quem vem de fora se sobe até ao topo do Hotel Mundial e se junta à vista o fiel amigo, sempre cozinhado impecavelmente.
E quando chega a hora da sobremesa, eis que chega à mesa o tão amado carro. Há fruta para os menos gulosos e muita escolha para os restantes. Perco-me de amores por uma tarte de requeijão que é cuidadosamente cortada e servida com simplicidade e elegância. Cada garfada sabe ainda melhor aproveitando a vista e antecipando a visita que se segue. Deixando para trás os ceús de Lisboa, desço até à cave do bonito Hotel Portugal.
Com uma arquitectura contemporânea repleta de apontamentos que remetem para a alma lisboeta, o Hotel Portugal é o irmão mais novo do Hotel Mundial e, apesar de ostentar a irreverância dos jovens, há já muita história escrita entre as suas paredes imaculadas. Passando pelo lobby, espreito o bar ali ao lado e apetece-me ficar. Mas o meu destino está no andar de baixo, onde se acede por umas misteriosas escadas que levam à Winehouse. É lá que se encontram os tesouros vínicos do hotel e onde se pode tomar um copo e petiscar algo ao final de cada dia. De barriga ainda cheia e com uma tarde de trabalho à minha espera, prometo voltar para saber mais sobre a minha cidade, seja pela janela ou nos seus locais mais escondidos. Lisboa pode (e deve) ser descoberta também pelos lisboetas!
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Restaurante Varanda De Lisboa - Hotel Mundial
Praça Martim Moniz, 2
Lisboa