5.4.10
Onde fica a cidade dos sonhos?
Para alguns terá palmeiras e uma nesga de água de encontro ao infinito, para outros é construída na sedimentação das memórias, das que vêm e vão como o mar. A cidade dos nossos sonhos fica onde quisermos, à saída da porta de casa ou do outro lado do mundo, no sítio exacto onde o cérebro vira coração e esse, dizem, guarda para sempre as paixões.
[A imagem de cima é de uma obra de John Baldessari da exposição Pure Beauty. Está patente no MACBA - Museu d'Art Contemporani de Barcelona. As fotos deste e de outros posts sobre Barcelona são do Provador.]
Corria outro século quando eu e o Provador nos apaixonámos por uma Barcelona viva e repleta de interesses mil, ainda a usufruir da fama dos Jogos Olímpicos e da cara limpa e traje de luzes que a ocasião pedia. Tínhamos vinte anos e uma vida inteira para voltar. Na bagagem trouxemos o peixe de Frank Gehry, as paredes estreitas do Bairro Gótico, o átrio do Museu Têxtil e o mar visto do Porto Olímpico [todos na imagem em cima]. Empacotámos o aroma do chocolate quente e umas colheradas da melhor crema catalana com a promessa de saborear de novo, uma e outra vez. Passámos quinze anos a (re)arrumar lembranças e a torná-las perfeitas. Quando desembarcámos na semana passada encontrámos uma Barcelona diferente, da qual não nos recordávamos... Uma estranha e demorada falta de reconhecimento. Nenhuma cidade resiste às expectativas de década e meia de espera e à espuma da memória. Restava a esperança de que a paixão surgisse de novo...
Aconteceu numa manhã em que visitámos o Pavilhão da Alemanha para a Exposição de Barcelona de 1929. Considerado um exemplo da arquitectura modernista, foi desenhado por Mies van der Rohe e reconstruído na sua localização original aos pés de Montjuïc nos anos 80. Começou aqui a história de uma cidade desconhecida que ganhou o nosso coração.