16.2.12

Uma tigela de caldo verde para um cozinheiro especial

Caldo verde

Há algo de serenamente civilizado na partilha de uma refeição com as outras pessoas. O simples acto de fazer algo para alguém comer, mesmo que seja apenas um prato de sopa ou um pão, tem muito significado. Sugere um acto de protecção e cuidado, de generosidade e intimidade.

Não há no mundo maior prova de atenção e amor que uma refeição preparada com carinho. Não são minhas as palavras mas assino por baixo. Convidar alguém para a nossa mesa é a derradeira forma de dedicação. É por isso que o projecto "Convidei para jantar" da autoria da Anasbageri é um exercício especulativo muito curioso. No reino virtual de todas as possibilidades, escolhemos os seres que pertencem às memórias, aos afectos ou a outros mundos e trazêmo-los até nós com um estalar de dedos e muita imaginação. Um contributo para a cultura da mesa. Tenho o grande prazer de receber a sua 2ª Edição, a decorrer até 16 de Março, e o privilégio de escolher o tema deste mês.

Entre dois dedos de conversa, quem queremos para partilhar atenção e um prato de comida? Certamente alguém que admiramos, com quem nos identificamos e de quem gostamos. Proponho-vos que tragam à vossa mesa chefs e/ou cozinheiros cujo trabalho vos preencha o coração (e a barriga). E que nos digam as razões que vos levam a escolhê-lo(s) e o que serviriam a quem faz da comida a sua vida. Difícil? Sim, mas certamente aliciante.

O senhor que vem jantar hoje é responsável pelas frases que abrem este texto. Diz-se um cozinheiro, não um chef. É o rei da simplicidade. E escreve os livros mais bonitos. Faz os programas de televisão mais apetecíveis. Numa cozinha de sonho, com uma porta aberta para uma horta / jardim e a companhia singela de felinos. Irresistível.

Hello, Nigel Slater.

Caldo verde

Fazemos um jantar informal. Um daqueles em que a comida deve ser preparada com o convidado encostado ao balcão da cozinha com um copo de vinho na mão. Sobre o fogão, uma panela coze as batatas que hão-de acabar em sopa. Eu enrolo as folhas de couve e lá vou cortando o mais finamente que consigo em juliana fina. A minha falta de jeito provoca um sorriso na face do homem que diz que a comida tem sido a sua carreira, o seu hobby e a sua fuga. Falamos sobre os livros, os gatos e os dois narcisos que desde ontem dão graça à minha varanda. Comemos um caldo verde e comparamos versões. É que, com alguma celeuma, Nigel fez há cerca de um ano, uma certa Portuguese Soup que ele diz chamar-se caldo verde e muitos desconfiam. Comemos leite creme e falamos de memórias culinárias, do papel central da comida na vida das pessoas e de como a falta de chuva é má para os campos. Tudo sob o olhar atento da minha gata, que ainda não decidiu se o senhor simpático que cheira a gato merece ou não alguma confiança.

Para os mais curiosos, a vida do meu convidado de hoje já deu um filme e podem lê-lo na crónica semanal que mantém no jornal Guardian.

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Para quem quiser participar na 2ª Edição do projecto "Convidei para jantar", ficam algumas indicações.
- As participações devem ser publicadas nos blogues e acontecer até 16 de Março com o tema chefs e/ou cozinheiros.
- A publicação deve conter um link para a página do projecto no Anasbageri e para este post da 2ª Edição e referir a autoria e o anfitrião.
- Por favor, coloquem o link aqui nos comentários ou na página do facebook. Qualquer questão pode ser colocada aqui ou por email.



Caldo verde

serve 4-6

2 colheres (sopa) azeite + azeite virgem extra para servir 4 batatas (cerca de 750g)
1 cebola, picada grosseiramente
2 dentes de alho, picados grosseiramente
950ml água
200g couve, picada finamente
chouriço ou linguiça para cozer (opcional)

Aqueça o azeite com os alhos picados, a cebola e adicione as batatas. Junte a água e o enchido (se usar), tempere com sal, tape, reduza o lume e deixe cozer (cerca de 10 minutos). Retire o enchido e reduza a puré. Rectifique o sal e se necessário adicione mais água. Escalde a couve com água quente, escorra e adicione ao creme de batata. Tape e coza por 8-10 minutos, até a couve estar tenra. Sirva com rodelas do enchido (se usar) e um pouco de azeite virgem extra.