25.2.11

Milfontes, túlipas brancas e um bolo de mel e alecrim

Vila Nova de Milfontes, Portugal

Como em todas as famílias, na minha há um guardião da memória. O meu pai assume o papel com uma precisão enciclopédica: datas, locais e acontecimentos acessíveis à distância de uma pergunta, criteriosamente ordenados na sua memória de elefante. Já a minha mãe vive o momento: Atenas, a cidade calcorreada com uns sapatos de camurça (ou seria Budapeste?), o rebordo entrecortado de um prato de pimentos vermelhos recheados com bacalhau fresco, o mar azul-esverdeado de Miami (ou seria o Mar Egeu?). Uma geografia de emoções em que latitude e longitude são meros pormenores de uma vivência maior.

Não estranhei portanto quando numa das nossas conversas telefónicas lhe perguntei por um Verão passado na Costa Alentejana e Vicentina em Vila Nova de Milfontes e recebi um peremptório nós nunca passámos férias em Milfontes. Nunca. Claro. Pergunta ao pai, insisto. A resposta vem rápida do sofá ao lado. Milfontes? Não, nunca. Mau. Assim não. Eu estive lá, tenho a certeza. Lembro-me dos piqueniques debaixo das árvores, das manhãs na praia e... de túlipas brancas. A colónia de ferias! diz a minha mãe. A colónia de férias. Claro. O Verão passado com um monte de outras crianças, cada peça da minha roupa marcada com uma túlipa de bordado inglês para que eu pudesse identificá-la e duas ou três semanas longe de casa, o que para os meus 7 ou 8 anos foi a maior aventura. Passadas mais de duas décadas, o pouco que a minha memória reteve não existe. Mas pouco importa. Encontro-me com um mar que reconheço como meu. Ou assim diz o sol na minha cara e eu acredito.

Vila Nova de Milfontes
Bolo de mel e alecrim // Rosemary Honey Cake

Um almoço com amigos especiais só pode fazer deste um fim de semana a recordar e repetir. Não há tempestade ou chuva que possa mudar esse sentimento. Ficamos de barriga cheia e coração preenchido para um Domingo de preguiça, em que as horas correm devagarinho ao ritmo de um passo a seguir ao outro. Há uma infinidade de indícios de que o meu Inverno interminável pode estar a chegar ao seu término. Penso num bolo de mel e o meu olhar prende-se num raminho de alecrim. Sei exactamente o que fazer com ele.

Bolo de mel e alecrim // Rosemary Honey Cake
Vila Nova de Milfontes, Portugal



Bolo de mel e alecrim
Adaptado ligeiramente a partir de uma receita de Ilona Chovancova, Cakes Maison

10-12 fatias

2 ovos inteiros
100g açúcar amarelo
80ml azeite (usei Virgem Extra Espiga)
4 colheres (sopa) mel
125ml leite + 1 colher (sopa) sumo de limão
1 colher (sopa) alecrim fresco picado (só as folhinhas)
250g farinha
2 colheres (chá) fermento em pó
pitada de sal
½ colher (chá) canela em pó
uma mão cheia de amêndoas inteiras (facultativo)

um raminho de alecrim e 1 colher (sopa) açúcar para finalizar (facultativo)

Pré-aqueça o forno a 180ºC. Numa tigela pequena misture o leite com o sumo de limão e reserve. Prepare uma forma de pão (ou várias dependendo do tamanho) com óleo em spray (usei Espiga) e polvilhe com farinha.

Bata os ovos com o açúcar. Acrescente o azeite, o mel e o leite e bata apenas até obter uma mistura homógenea. Numa tigela à parte, peneire a farinha, o fermento em pó e o sal e junte o alecrim, as amêndoas (se usar) e a canela. Envolva estes ingredientes sólidos na mistura dos ovos, sem bater. Verta a massa para a(s) forma(s). Disponha o raminho de alecrim e empurre ligeiramente sem deixar cobrir com a massa. Polvilhe com o açúcar. Coza durante 25-40 minutos (dependendo do tamanho das formas) ou até estar dourado. Deixe o bolo arrefecer ligeiramente antes de desenformar.