7.6.11
Ostras e vinho para um jantar Queirosiano
Eu gostei de ler Os Maias. Gostei, não. Gostei muito. Talvez os meus quinze anos me tenham impedido de compreender em pleno a sua mordaz veia política mas Eça de Queirós foi um dos primeiros autores portugueses que me conquistou pela palavra fácil e pelo poder descritivo. Construí cada lugar na minha mente e de olhos fechados caminhei por cada rua, entrei em cada sala e imaginei cada personagem. Sentei-me à mesa com os convivas no jantar que João da Ega ofereceu ao banqueiro Cohen no Hotel Central e em que se fala de política e literatura, da economia e da crise do país enquanto se saboreiam os pratos que vão sendo servidos. A situação de Portugal era má. Esperava-se um empréstimo e segundo Carlos da Maia, o “país ia alegremente e lindamente para a bancarrota” com o poeta Alencar a exigir "uma república governada por génios", "a fraternização dos povos, os Estados Unidos da Europa" e Ega a contrapor com a necessidade de uma invasão espanhola, já que assim se iniciava “uma história nova, um outro Portugal, um Portugal sério e inteligente, forte e decente, estudado, pensado e fazendo civilizações como outrora...”. Um jantar com temáticas muito actuais, passados tantos anos desde que Eça de Queirós escreveu os Maias (que se desenrolam na segunda metade do século XIX).
As referências gastronómicas em Eça de Queirós são abundantes. Comidas e bebidas. O jantar no Hotel Central é apenas uma das refeições que têm lugar ao longo da obra e talvez a mais relevante. Começa com ostras e vinho. Discute-se o estado do país e os pratos vão sendo servidos: petits-pois á la Cohen, sole normande, poulet aux champignons. O guião perfeito para um jantar Queirosiano que os alunos da Escola de Hotelaria e Turismo de Lisboa põem em marcha no âmbito das suas aulas de Português. Uma experiência muito interessante e uma iniciativa capaz de levar quem tem quinze ou dezasseis anos a interessar-se por Eça. Nada como começar a gostar de literatura pelo estômago e a partir de interesses comuns.
A sobremesa deste jantar foi uma combinação de arroz doce e queijadas de Sintra. Eu que nunca fui grande fã das pequenas queijadas dei por mim a achar-lhes mais graça do que me lembrava. Mais uma na lista das coisas a fazer.