23.9.11
Um dia na quinta ou o elogio da natureza
Vamos em direcção ao campo já a manhã corre solarenga e o Domingo se faz à estrada. É um dia de muito vento. Anda tudo pelo ar. Folhas e pó e a promessa de umas horas bem passadas. Aproveitamos a boleia. Não é que eu seja uma menina da cidade mas o campo e natureza na sua enorme plenitude nunca deixam de me surpreender. Como se umas fileiras de tomateiros entrelaçados e uma "ruela" de feijão de trepar encerrassem um mundo de segredos por contar.
E assim nos encontramos a caminho da quinta. Falar sobre agricultura biológica, meter as mãos na terra, caminhar entre ervas aromáticas e árvores de fruto. Fazer um piquenique. Sentar o rabo na relva. Apanhar os últimos raios de sol de uma estação em vias de mudar. A natureza no exercício da sua grandeza.
A verdade é que nos afastámos imenso do sítio onde os alimentos que consumimos são criados. Não apenas geograficamente mas também na relação que (não) temos com a natureza. A tremenda indústria alimentar que criámos sustenta uma alimentação cada vez mais barata (ao contrário da percepção comum) em que carne e peixe já não são ingredientes de" refeições especiais" mas que se encontram em permanência no nosso prato. Por outro lado, os vegetais que consumimos são maioritariamente produzidos em regimes intensivos e monoculturas, resultado de uma agricultura convencional que faz uso de químicos para contrariar os problemas causados por essas opções. As nossas crianças correm o risco de crescerem sem verem um tomateiro ou um porco vivo. Ou de não relacionarem o animal com a costeleta que lhes aparece no prato. Porque a comida aparece no supermercado e depois no prato como se tal acontecesse por magia.
O nosso ganha pão (2005) é um documentário de Nikolaus Geyrhalter que recomendo vivamente. As imagens são, na sua maioria, de grande beleza. As implicações do que se vê, são tudo menos ligeiras. Este documentário pode, como diz o seu autor, não ser fácil de digerir. Precisamos com urgência de repensar aquilo em que a nossa comida se está a tornar. Pela nossa saúde e do planeta.
Os produtos biológicos são uma das respostas possíveis a este estado das coisas. O poder do consumidor reside na escolha. Claro que o preço e a disponibilidade contam na hora de escolher. Mas se com mais informação e um pouco mais de esforço, começarmos a consumir com a consciência de como, onde e com que consequências são produzidos os alimentos que chegam à nossa mesa, tudo pode ser diferente.
A responsabilidade social é querer saber, por exemplo, que se para se comprar barato tal não implica a exploração dos produtores. O conceito de comércio justo veio trazer uma abordagem ao problema que coloca não mão do consumidor a resposta. De novo, as nossas escolhas no momento da compra podem fazer toda a diferença. A sustentabilidade e o desenvolvimento sustentável são afinal de contas um princípio muito simples: "satisfazer as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades".
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