Está aqui ao fundo da Rua Augusta. Se Lisboa fosse uma cidade virada para o rio, esta seria a sua sala de visitas. Larga, espaçosa e arejada. Não é. Razões e planeamento urbanístico à parte, se se vai falar de peixe mais vale que seja junto à água e num sítio em que a História nos faça companhia. É assim no Pátio da Galé e é lá que decorre por estes dias o Peixe em Lisboa.
Esta iniciativa reúne em torno do peixe o que de melhor se faz em Portugal na área da gastronomia e promove um conhecimento mais aprofundado do tema. Um pretexto para trazer também chefs internacionais mas sobretudo para dar visibilidade à dimensão gastronómica da cidade de Lisboa. É uma oportunidade para ouvir na primeira pessoa o que têm a dizer os chefs sobre o seu trabalho, participar em debates sobre alimentação, assistir a aulas e provar a cozinha de reputados restaurantes onde o peixe é rei. Este ano são 10.
Nestes primeiros dias, a minha passagem pelo Peixe em Lisboa fez-se sobretudo pelas apresentações dos chefs. São momentos que permitem compreender a visão, o entendimento que cada um tem da sua cozinha, dos ingredientes, das técnicas e dos conceitos à volta de um prato. Para quem se interessa por comida, nunca deixam de surpreender as diferentes formas de ver o mesmo universo a partir de imaginários e ideias tão distintas.
A apresentação do Chef José Avillez veio mostrar as suas ideias para o Belcanto. Para iniciar, um crocante de "bacalhau com grão" para que o público possa provar um amuse bouche já na carta do restaurante. Depois, um desfilar de pratos, uns já finalizados e prontos a entrar na nova carta de Primavera como a sapateira e abacate (na fotografia, em baixo), outros ainda a fazer o seu caminho. Todos explicados com tempo para falar nas memórias e nas emoções que os sustentam. Impressionante o rigor da equipa e do Chef David de Jesus. Uma espécie de ballet, numa coreografia perfeita. Faz parecer (quase) fácil.
Ainda que a minha expectativa fosse de uma apresentação menos convencional (na linha das suas anteriores participações no evento), José Avillez consegue de forma singela construir os seus pratos e colocá-los por palavras, servindo um misto de ingredientes e técnicas envoltos nas emoções que os tornam naquilo que são.
Saí convicta que mais tarde ou mais cedo o reconhecimento devido chegará e que para o Belcanto se escreverá (ainda) um novo acto. Voltei no Domingo ao Peixe em Lisboa mas isso já fica para outras conversas.
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O Peixe em Lisboa decorre até ao próximo Domingo, dia 22 de Abril. O programa completo pode ser consultado aqui.