Ali ao lado, na praia da Falésia, o mar. O sol, esse, fez-se rogado no fim-de-semana em que me deixei perder pelos inúmeros recantos em torno do Sheraton Algarve & Pine Cliffs Resort. Em busca de descanso e dias felizes, muitas horas de passeio e o lugar perfeito para encontrar alimento para a alma e para o corpo.
Porque a comida é sempre o centro nevrálgico de qualquer lugar, não resisto a meter o nariz na cozinha do chef Osvalde Silva. Talvez seja mais rigoroso aplicar o plural. Cozinhas. Várias. São mais de uma mão-cheia, espalhadas pelo complexo, onde uma equipa extensa surpervisionada pelo chef executivo dá corpo às suas ideias. Na mesa os pratos remetem para a paisagem algarvia, com os seus ingredientes de eleição e alguns dos sabores tradicionais. Mas a envolvente é mais ampla e podem ser identificadas influências de uma cozinha internacional.
Depois de ter passado pelo restaurante O Pescador, onde o chef Osvalde Silva recebeu o chef Marc Fosh, é no O'Grill que nos voltamos a encontrar para um almoço de despedida em que a chuva marcou presença.
Na distância entre o piano e uma das muitas janelas rasgadas sobre a piscina há uma mesa à nossa espera. Antes de mais, como amuse-buche uma terrina de rabo de boi com foie-gras, acompanhada por um coulis de pimento e compota de frutos vermelhos. Sem constar do menu, é uma forma saborosa de dar as boas-vindas que o chef faz estender à cozinha. Aproveito, claro. Quero sempre conhecer as pessoas e os espaços que fazem do meu almoço muito mais que pratos de comida.
Em conversa interminável e com mil perguntas para fazer, lá vou atrapalhando o serviço com o chef a responder de bom grado, enquanto corta o salmão que há-de chegar no prato seguinte para satisfação dos meus companheiros de aventura.
É a sua versão de um salmão sashimi com alga waka e gengibre rosa. Sabores asiáticos despertados por um sal de chocolate, ovas de salmão e molho de alperce, num piscar de olho a outras paragens. Não foi o meu preferido mas era certamente um do mais bonitos. A vida é uma colecção de experiências.
O prato do dia? É do prato principal que não me esqueço. Um lombo de vitela com crosta de dukkah, servido sobre puré de aipo e guarnecido de cogumelos. Com as texturas a combinar num somatório de diferentes intensidades e todos os sabores a convergir para um resultado de boa memória. Excelente.
A fazer da chuva lá fora um mero acontecimento sem importância.
Chegada a sobremesa, arrumo as ideias. A cozinha do chef Osvalde Silva é esclarecida, apesar dos encontros no prato de muitas referências de proveniência diversa. É bonita, sem ser superficial. Os rebentos de beterraba e rúcula que acompanham o tiramisú estão lá para adornar, mas o seu sabor forte é integrado pelo cacau que os sustenta e o frutado do gelado de manga. Não é uma sobremesa de arromba. Dificilmente alguma seria depois do lombo de vitela e da memória ainda fresca da sobremesa do jantar do dia anterior.
Uma excelente oportunidade para conhecer as suas propostas é durante este Algarve Chefs Week, cuja 4ª edição começa amanhã e decorre até 30 de Maio. No menu deste evento alguns dos sabores que aqui relembro e uma ou outra referência aos muitos produtos provenientes do barrocal algarvio.
