
De azeite e mel se fazem os doces da minha memória. Lá onde os dias passam mais devagar, onde o céu começa e a terra termina, fica a paisagem a perder de vista a que se chamou Alentejo. Na linha do horizonte, ao longe, as silhuetas das oliveiras cruzam-se com os sobreiros e as azinheiras. Há pão na mesa e cheira a ervas aromáticas. Com canela e limão, estão reunidos os sabores de uma tradição, aqui traduzida em bolo e transmitida de geração em geração à fatia.
Bolo Podre. Pode um nome ser mais enganador? De onde vem ninguém sabe, sugestões há muitas, certezas quase nenhumas. Talvez seja a longevidade. Esquecido numa lata, dura uma eternidade. Ou pode ser que seja a cor, escura e profunda, misteriosa e aterradora ao mesmo tempo. Se nome inspira desconfiança, só o aroma ganha seguidores. Azeite, mel, canela e limão. Assim se escreve a estória de um bolo alentejano.


A escolha do mel e do azeite determina o sabor deste bolo. Gosto de um mel com personalidade cujos aromas remetam para o campo de onde é proveniente e de um azeite doce e frutado, característico do Alentejo. Para o primeiro, deito a mão a um mel de rosmaninho que guardo para ocasiões especiais. Para o segundo, abro uma garrafa de azeite virgem extra Adega de Borba, feito a partir de azeitonas da variedade Galega e repleto de referências à riqueza gastronómica da região. Este bolo é uma espécie de cápsula onde cabe todo o Alentejo. É simples, faz uso inteligente dos ingredientes da terra e capta o sentimento profundo e sereno da doçaria caseira.
Para mim sabe a casa e a tardes de Outono. Com chá ou café, é promessa de uma viagem por entre oliveiras e sobreiros, até ao coração do Alentejo.
São servidos?

Bolo podre
serve 8-10
6 ovos grandes, separados
150 ml azeite (escolha um frutado, usei Adega de Borba)
150 ml mel
100 g açúcar amarelo
75 g açúcar mascavado escuro
raspa de 1 limão grande
2 colheres (chá) erva-doce moída
2 colheres (chá) canela moída
200 g farinha de trigo, peneirada
1 pitada de sal
1 colher (chá, bem cheia) fermento em pó
açúcar em pó, para polvilhar (opcional)
Pré-aqueça o forno a 180ºC. Pincele uma forma rectangular com manteiga. Polvilhe com farinha.
Bata as gemas com os açúcares com uma vara de arames até obter uma mistura clara. Junte o mel e a raspa de limão e mexa. Adicione o azeite, aos poucos. Acrescente a farinha, o fermento e as especiarias e bata até a mistura estar homogénea. Bata as claras em castelo com uma pitada de sal. Envolva na massa sem bater. Deite a massa na forma e leve ao forno durante 45-50 minutos ou até o bolo estar cozido (se necessário cubra com papel de alumínio no final da cozedura para não queimar).
Sirva morno ou frio polvilhado com açúcar em pó.
que bom aspecto!!!
ResponderEliminarPaulinha
Adoro, fiquei logo a pensar no Alentejo e das saudades que tenhe dele.
ResponderEliminarBolo bom, que remete à estação e às coisas boas.
Um beijinho.
Gosto muito deste bolo de nome curioso, mas nunca o fiz.
ResponderEliminarBeijo.
Delicioso! Adoro bolo podre.
ResponderEliminarOlá Suzana,
ResponderEliminarVi o teu bolo e fiquei imediatamente com vontade de tentar a versão do «bolo podre à Figueira», com algumas diferenças em relação ao teu. É isso, vou juntar o prazer ao trabalho ;)
Agradeço a inspiração!
Um abraço,
Guida