17.12.14
{Postal Ilustrado} Vinhos e ostras no Vestigius
Há um rio magnífico que corre ao lado da cidade e que eu espreito a correr todos os dias. Faça sol ou faça chuva, a luz característica cobre o caminho entre Santa Apolónia e o Cais do Sodré, segue até Belém e Algés em direcção à linha. Por tempo indeterminado, Lisboa construiu-se esquecida do rio, até ao dia em que aprendeu a viver em comunhão com ele. Na linha de água, entre docas, armazéns e estações de barcos há uma infinidade de lugares inspiradores à espera de quem os queira descobrir. Um desses sítios é o Vestigius. Foi lá que, num dia cinzento e chuvoso, me encontrei com os vinhos Contemporal, a boleia de um canapé azul turquesa e guiada pela mão do enólogo Aníbal Coutinho.
As ostras, que dividem sempre corações, entre os que adoram e aqueles que as dispensam, são companheiras de uma prova de brancos. À prova, um Loureiro 2013 e um Alvarinho do mesmo ano, ambos produzidos na Quinta de Melgaço. Com as ostras, num encontro feliz, quase não consigo escolher um favorito. Hei-de apontar na direcção do Alvarinho, sendo de alguma forma injusta para com o Loureiro, uma casta de que gosto bastante. A surpresa vem com o preço dos vinhos e uma relação qualidade-preço assinalável. Se ao menos as ostras seguissem o mesmo princípio...
No Vestigius, o almoço chega em forma de uma degustação. O desafio é compreender o modo como os vinhos e os pratos se harmonizam. Nos tintos, entre o Douro e o Alentejo, e na combinação com um magret de pato ganha, para meu espanto, o vinho alentejano. Do enólogo Rui Reguinga, o seu lançamento está ainda no segredo dos deuses. Eu, por mim, gosto muito da acidez e da elegância e fico à espera.
Com a chuva a bater e os sons do rio ali ao lado, são as ostras e os brancos que mais guardo no pensamento. E a certeza que o mundo dos vinhos é admirável na sua diversidade e conhecimento.