11.12.15
Bacalhau, grão e uma cataplana para o Natal
São luzes que se acendem e apagam, campainhas em jeito de música e o corropio de pessoas pela rua que me fazem aceitar o inevitável: já é Natal. Do espírito das coisas partilhadas, da vontade de fazer sempre melhor e das promessas de melhores sorrisos se faz a minha lista de pedidos. A outra, a lista das coisas a fazer, essa cresce a olhos vistos e sem ajuda. Por lá rabisco as compras, os encontros, as reuniões, as preocupações e as inquietações que chegado o dia 24 se dissiparão. Tenha eu ou não conseguido dar-lhes resposta...
Confesso que me preocupo mais com a mesa do Natal do que com a árvore ou os presentes. O que se come cá por casa nesta época é provavelmente similar a muitas casas portuguesas. Não há Natal sem bacalhau. É tão português quanto pode ser um fiel amigo que vem de longe. A nossa história com o bacalhau escreve-se há tanto tempo que quase nos esquecemos que este não é peixe da nossa costa e que a salga e cura a que o bacalhau é sujeito têm tudo a ver com este nosso sabor tão querido. Na Terra do Bacalhau há uma preocupação com a origem e o processo de conservação do bacalhau com a qual me identifico e que passa pela importância da proveniência e captura do peixe e do seu tempo de cura. Chegado o tempo de decidir o menu para o jantar da consoada, a decisão está tomada e passa sempre pelo bacalhau.
Dependendo da receita escolhida, o tipo de bacalhau utilizado deve responder às especificidades do que se pretende confeccionar. Postas altas para uma confecção mais elaborada, postas mais finas para outras receitas que não peçam um corte de bacalhau tão nobre. Porque é Natal são os lombos ou as postas centrais mais altas que fazem as honras da casa. A sugestão é trazer o grão para dentro da cataplana e fazer um prato que serve um número grande de pessoas, responde à tradição e às memórias de outros pratos de bacalhau muito apreciados e permite mostrar as bonitas cataplanas.
Não sendo uma receita de consoada por excelência, a mera lembrança de bacalhau com grão permite convencer os mais tradicionalistas. Fica pois a sugestão para esta quadra natalícia, com inspiração do chef Hélio Loureiro e a selecção do bacalhau de 9 meses de cura do chef Vítor Sobral.
Cataplana de bacalhau com grão
Adaptado livremente de uma receita do chef Hélio Loureiro
serve 6
3 postas de bacalhau (usei postas altas de um bacalhau graúdo com cura de 9 meses)
3 colheres (sopa) azeite
2 cebolas, picadas
2 dentes de alho, picados finamente
400g tomate em lata, picados grosseiramente e com o líquido
1 pimento vermelho, em tiras
1 colher (café) óleo de malagueta (opcional)
75 ml vinho branco (seco)
400 g grão cozido
300 g batatas novas
sal e pimenta preta, moída na altura
salsa picada, para servir
No fundo da cataplana coloque o azeite, a cebola e o alho. Deixe cozinhar 2-3 minutos e junte o tomate e o pimento, ainda com a cataplana aberta. Quando o tomate começar a reduzir ligeiramente deite as batatas. Adicione o vinho branco, o óleo de malagutea (se usar) e tempere com sal e pimenta preta moída na hora. Feche a cataplana e deixe cozinhar por 5-6 minutos. Findo esse tempo, abra a cataplana (com cuidado) e introduza o grão escorrido e o bacalhau. Se estiver muito seco, junte um pouco de água. Deixe cozinhar tapado novamente 5-6, ou até o bacalhau começar a lascar, abanando a cataplana ocasionalmente.
Para finalizar, retire a tampa, polvilhe com a salsa picada e sirva na cataplana.