2.12.16
{Moules & Beer} Quando um prato belga se faz português
Os lugares perto de casa ficam sempre para outro dia. Porque estão ali e podemos ir em qualquer altura, sem planear. E não vamos. Até ao dia em que decidem por nós e finalmente acontece. No Moules & Beer a luz que entra pelas clarabóias descobre uma sala ampla, com a cozinha ali ao lado onde os pratos tomam forma. Na parede, inscrito em lâmpadas acesas, o mote para a refeição: Moules & Beer. Deixem vir à mesa os mexilhões e nem se atrevam a não experimentar uma das muitas cervejas que povoam as prateleiras.
Se eu pudesse queria ter começado este caminho pelo mundo da cerveja antes. É que eu cresci com o vinho e durante décadas achei que não gostava de cerveja. Quis a idade dar-me uma nova perspectiva, mostrar-me esta criatura disposta a conhecer outros néctares e com coração para encontrar novas paixões. O sabor apanha-me muitas vezes desprevenida e o ritual ainda não é natural. Mas lá me vou perdendo de amores de quando em vez. A última da quais uma provocadora cerveja artesanal chamada Vadia.
Já de cracas e lapas, gosto. Muito. Desde que me lembro. Estas são dos Açores e chegam (enquanto a meteorologia permitir) à mesa do Moules & Beer. Nas entradas que fazem parte da carta, as tábuas com tártaro de salmão, atum e vinagrete de mexilhão (claro!) e os muito gulosos mexilhões panados com maionese e sweet chilli iniciam uma viagem pelo ingrediente estrela da casa. Dos mexilhões havemos de ouvir falar mais, quando acompanhados das batatas fritas chegam à mesa nas grandes tigelas brancas de rebordo azul, a fazer jus à tradição belga. Os conhecidos bivalves à Bulhão Pato são uma opção segura mas é a curiosidade sobre as novas combinações com vinho do Porto, com cerveja e com gim que mais nos faz salivar. A primeira é rica e com um sabor vincado a natas e a segunda arranca sorrisos dos amantes da cerveja. Contra as minhas expectativas, que não sou fã de gin, a minha escolha vai sem hesitação para os mexilhões com gin. Excelentes ao ponto de provar uma e outra vez o molho, com pão e tudo ou com a ajuda de uma casca vazia!
Mas no Moules & Beer não se comem apenas mexilhões. Os carnívoros de serviço encontram ainda um naco de lombo fatiado (muito bem confeccionado), acompanhado de molho de mostarda, manteiga de ervas e molho holandês ou um picadinho do lombo. Como alternativa para quem procura mais do que uma refeição em torno do mexilhão, estas são opções bem conseguidas, numa carta que procura cobrir diferentes vontades. Por esta altura provámos ainda uma nova cerveja: a Letra A, muito diferente da anterior, de sabores mais delicados e menos torrados. Boa mas o meu pensamento continuava na Vadia. Dos gulosos da mesa fica o conselho de guardar espaço para os doces. Servidas em taças iguais, as sobremesas vai desde a mousse de chocolate (escura, intensa e muito boa), à tarte banoffee ou de limão merengada, passando pelo cheesecake (predilecto de muitos dos comensais) ou o crumble de maçã ainda quentinho. Em suma, um almoço cheio de sabores conhecidos à volta do mexilhão mas com muitos outros encantos. E a certeza que é preciso voltar e rápido ao Moules & Beer. É que agora já não há desculpas.
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Moules & Beer
Rua 4 da Infantaria, 29 D
Campo de Ourique, Lisboa