16.2.18
{ Adega Mãe Terroir 2014 } Quando um branco especial encontra a cozinha do chef Miguel Laffan
Há vinhos de que se gosta, outros de que se gosta muito e há vinhos inesquecíveis. Fruto do caminho feito por produtores e enólogos, longe estão os dias em que a qualidade dos brancos portugueses era uma incógnita. A paisagem que hoje se desenha no copo faz com que vinhos como o AdegaMãe Terroir 2014 tenham o seu lugar no coração de muitos apreciadores que, como eu, se renderam aos brancos. Portador das características da região que lhe serve de casa, este é um vinho que faz uma síntese elegante e inclusiva da geografia, com a terra a encontrar o mar e a fruta fresca a pautar uma mineralidade atlântica.
Se a surpresa de um vinho diferente se traduz em rostos sorridentes e piscar-de-olho cúmplices, a antecipação da sua combinação com o prato faz instalar na sala um clima de grande debate. Que escolhas terá o chef Miguel Laffan feito para acompanhar tão especial vinho? Enquanto as opiniões são trocadas vão-se sentando os comensais, curiosos com os canapés que formam um grupo diversificado com o preto do rissol de bacalhau de cura amarelo a fazer sobressair o verde brilhante da maionese de wasabi, junto à delicadeza da cabeça de xara que confirma a alma também alentejana do chef do L'AND.
Junto à lareira, Bernardo Alves aproveita a passagem do chef Miguel Laffan pela sala para referir a presença no jantar dos vinhos monocasta da AdegaMãe Arinto, Pinot Noir e Touriga Nacional. A harmonização do maravilhoso Lavagante azul, beurre blanc de citrinos, salada e espuma de funcho e aneto com uma das principais castas brancas portuguesas faz do par lavagante/arinto um dos mais bem sucedidos da noite.
Após a entrada, com o monocasta Arinto a abrir as hostilidades, é chegado o momento de entrar em cena o herói da noite. Servido o AdegaMãe Terroir 2014, este vem acompanhado de um Bolinho de caça no vapor, shisô, manga e caril com neve de foie gras em sintonia com os seus aromas complexos e intensos. Da carne que faz o recheio envolto por uma textura de bao ao sabores intrincados do shisô ("manjericão japonês") e da manga em forma de gel, é o molho que fica à altura do vinho, permitindo-lhe brilhar. A edição exclusiva e numerada de apenas 2677 garrafas é o resultado de um trabalho de enologia de Anselmo Mendes e Diogo Lopes a partir das castas Viosinho, Alvarinho e Arinto.
E é um belo vinho.
O prato de carne que vem de seguida marca a entrada nos tintos com um Pinot Noir que é tudo o que dele se espera (fruta silvestre e taninos elegantes) e mais. Tem no Lombo de borrego Tandoori, estufado de ervilhas, batata doce, espinafres e coco companhia para uma conversa entre o prato e o copo para durar bastante. Da combinação sem mácula fica apenas a incapacidade de quem, como eu, tem menos barriga que olhos para seguir caminho. E chegada a sobremesa Tiramisú de pistácio e amaretto com chocolate branco e cerejas em calda com gelado de chocolate é no delicioso gelado que a colher se detém. Os sabores do falso mil-folhas são fortes para ombrear com o monocasta Touriga Nacional que é servido mas o retorno ao copo de Terroir 2014 que ainda continua na mesa é um apelo maior.
E é com ele na mão que termino o jantar, ainda a pensar na conversa com Anselmo Mendes e Diogo Lopes antes do jantar em que os enólogos explicaram todo o processo de decisão por trás da feitura do Terroir 2014, desde a uva na vinha à selecção dos lotes, passando claro por toda a vinificação na AdegaMãe. A moderna adega com todas as condições para fazer os seus vinhos está aberta ao público que pode visitar o espaço, fazer provas e comprar os seus preferidos na loja. Como programa de fim-de-semana fica a sugestão para ir até à região de Torres Vedras!