23.5.19
Casa Relvas: vinhos na adega e o almoço na Herdade de São Miguel
Pela estrada a fora desenha-se um Alentejo em Primavera plena com períodos de sol e chuva. O caminho há-de conduzir à Casa Relvas cujo coração se situa na adega onde são pensados e desenvolvidos os vinhos, perto de São Miguel de Machede, e a alma se estende até à vizinha Herdade de São Miguel, que guarda o espírito e as raízes da família.
A visita à adega principal dá início a um dia passado entre vinhos e vinhas e muitas conversas. A Casa Relvas é herdeira de uma história escrita na ligação à terra que vê nas novas gerações da família o ensejo de continuar a aventura no mundo dos vinhos que em 1997 se iniciou pela mão de Alexandre Relvas. Entre a zona das talhas, o deambular pelas grandes cubas de inox e a sala das barricas provamos vários vinhos, sempre contextualizados por Alexandre (filho) que, com o seu irmão António, lidera o negócio que é também uma paixão.
O elogio da terra e das gentes está plasmado nas amostras de solo que nos recebem à entrada. É a partir delas que se percebem melhor os vinhos, ainda em processo de desenvolvimento pela equipa de enologia, que provamos com Alexandre Relvas Jr na visita guiada. As castas que caracterizam o perfil dos vinhos da Casa Relvas são fruto do terroir tipicamente alentejano, com mais de três centenas de hectares de vinha em produção integrada, distribuídos por São Miguel de Machede, Redondo e Vidigueira. Dos vinhos mais complexos aos mais simples, da talha ao rosé que chama o Verão, há lugar para todos numa abordagem sempre rigorosa e em harmonia com o meio envolvente.
Com espaço também para vinhos inesperados e que seguem novos perfis de consumo, surge o Madxa (branco e tinto) que é um vinho exclusivamente para exportação. Com o nome a fazer referência à terra fértil de São Miguel de Machede, o branco de 2018 fresco e floral que provámos é resultado dessa visão que assenta numa ideia de celebração da vida. O almoço na Herdade de São Miguel que se seguiu é bem exemplo dessa postura da Casa Relvas e dos seus vinhos.
Uma oportunidade única para conhecer melhor o enoturismo da Casa Relvas acontece já dia 25 de Maio com Um dia em São Miguel com a celebração do Alentejo, das petiscadas e da cultura local, que termina com música e um com concerto acústico de Tim, dos Xutos e Pontapés, ao cair da tarde.
A chegada à Herdade de São Miguel é acompanhada das boas-vindas dos rafeiros alentejanas e da mesa posta para o almoço. No ar um sentimento de partilha tão próprio do Alentejo e que se materializa numa refeição descontraída no monte que é também casa da família. Ao começar nos brancos com o Herdade de São Miguel Colheita Seleccionada Branco 2016 (magnum) reconhece-se a presença de Antão Vaz num vinho de aromas tropicais e corpo bem presente que se bebe com satisfação. Dos vinhos que mais surpreenderam pela sua especificidade, este Esquecido 2017 composto por Arinto "esquecido" em barrica e que se fez um vinho complexo e muito gastronómico, de encher a mesa.
Porque o almoço se faz de um excelente cozido alentejano, os tintos assumem especial presença com o portefólio da Casa Relvas a mostrar a sua extensão e o carácter especial de alguns dos seus vinhos. Do Herdade de São Miguel Colheita Seleccionada de 2017 ao varietal de Trincadeira de 2014 (imagem inicial), muito aclamado entre os comensais, fica patente a qualidade da viticultura e enologia.
Mas o palco, perdão, a mesa é do Pé de Mãe 2016 com a sua enorme elegância e presença. Este é um vinho dos que fazem sonhar, frutado e intenso, mas com taninos suaves e uma óptima acidez. Pudesse haver lugar à escolha de um entre os tintos provados e seria ao Pé de Mãe que iria parar a escolha do coração. Houve ainda tempo para mais um tinto, o Herdade de São Miguel The Friends Collection 2015 in Memoriam by Alexandre Relvas, que presta homenagem a três das castas mais emblemáticas da Casa relvas: Alicante Bouschet, Touriga Nacional e Trincadeira.
Já com a sobremesa à vista e com mil conversas cruzadas à mesa é tempo de abrir uma garrafa do Herdade de São Miguel Passi 2014, um colheita tardia em que as uvas foram colhidas apenas no final de Outubro e inícios de Novembro. O doce alentejano por excelência, um Sericá com boa dose de canela, é o par perfeito para este equilibrado colheita tardia com notas de especiarias bem presentes.
Depois de um dia a descobrir os vinhos da Casa Relvas e a usufruir da serenidade da Herdade de São Miguel chega a altura das despedidas. É um até já pois prometemos voltar em breve.
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Casa Relvas — Enoturismo
São Miguel de Machede
7005-752 Évora - Portugal