É Domingo e faz sol. Pelas ruas estreitas do Bairro Alto percorremos o caminho até chegar ao Tantura com a promessa de uma viagem no prato por sabores israelitas e judaicos, numa celebração das cozinhas do Mediterrâneo Oriental. No espaço que nos acolhe há um bulício no ar, entre a cozinha aberta e o bar já em laboração, o ambiente é rico em referências diversas com mobiliário e decoração de proveniência múltipla, a viver uma segunda vida. Um par de mesas escolhem pequenos, coloridos e vibrantes pratos das bandejas com pães, entradas, saladas e molhos para início do Brunch, que é servido das 12:00 às 15:30.
A ideia é provar um conjunto de diferentes Mazzets, com a consistência de uma pasta ou de um molho, juntamente com os pães. Ainda de olho na Bagel coberta de sésamo, que fica para a próxima visita, escolhemos um Burek (massa philo recheada com alho francês, em forma de crescente) e um Kobena (pão judeu iemenita, massa laminada com manteiga após a primeira levedação e enrolada), acompanhado de molho de iogurte e tomate.
A riqueza dos pães, servidos quentes, combina com a frescura do Húmmus (grão em puré com tahini), Labanea (queijo cremoso à base de iogurte) e Baba-ganoush (pasta tradicional do Levante, feita de beringela) e com a intensidade do molho Matbucha (condimento da cozinha sefardita marroquina, com tomate e pimentos). Uma combinação deliciosa e cheia de significados associados à herança judaica pelo mundo ao longo do tempo e que nos leva à descoberta de uma cultura rica e multifacetada.
O conceito de brunch é trazido para a tradição de pequenos pratos de diversos tipos, servidos mais ou menos ao mesmo tempo, o que resulta na perfeição. A refeição segue com saladas e ovos cozinhados diferentemente e termina (claro) com sobremesa e, no nosso caso, café.
É então chegada a altura de escolher as saladas, entre a Fattoush (salada de ervas com pão crocante) e o Tabbouleh (bulgur, salsa e hortelã, romã, salada originária do Levante), escolhemos esta última, juntamente com uma salada de rúcula com tomate-cereja e molho de laranja. De novo, uma cornucópia de sabores com outros tantos ingredientes e mil cores, que fazem de cada prato uma emoção.
Com os pratos de ovos ainda por provar, tomámos a decisão de deixar para a sobremesa o que ainda resta da nossa gula e prometemos repetir a experiência com mais contenção nos pratos iniciais (o que não será fácil).
Para fechar, uma nota doce. De novo em versão "pequenos pratos", Halva de pistácio e nozes crocantes (mousse de mascarpone e tahini com frutos secos), biscoito de chocolate e avelã (em massa philo com pistácios) e bolo de canela. Se o último faz boa companhia ao café, o biscoito será a perdição dos amantes de chocolate. Mas é a mousse que ganha o nosso coração e nos deixa cheios de vontade de mais uma colherada (e outra).
O Brunch do Tantura é mesmo uma viagem no prato, servida num ambiente muito acolhedor, repartida em pequenas quantidades de muitos sabores e repleta de cores. O serviço é, aliás, mais uma das virtudes deste espaço, atento sem ser invasivo e sempre pronto a elencar os ingredientes e explicar cada um dos pratos. Uma excelente opção para um brunch diferente.
—
Tantura
Rua do Trombeta 1D, Bairro Alto
1200-471 Lisboa