3.2.11

Trifle de frutos silvestres e uma reflexão sobre a autoria das receitas

Trifle de mascarpone e morangos

A questão das receitas retiradas daqui e dali não é nova. Quem escreve e publica receitas deve seguir um código de conduta para que a autoria e atribuição de receitas seja clara, com a indicação explícita quando se trata de uma adaptação e a citação de fontes. É uma questão de honestidade intelectual e de respeito pelos autores. Num excelente artigo sobre o assunto, David Lebovitz enuncia algumas regras a propósito da atribuição de receitas que podem servir como orientação: 1) quando se modifica a receita de alguém deve indicar-se "adaptado de"; 2) quando se altera a receita substancialmente, pode não se indicar a fonte mas se for similar a uma receita publicada, deve indicar-se "inspirada em" e 3) quando se muda mais de três ingredientes, a receita pode ser publicada como própria desde que as técnicas de confecção não sejam iguais. Em caso de dúvida nada como indicar a fonte, seja adaptado, inspirado ou só levemente relacionado com. Digo eu. Porque é mais fácil e, como diz a minha amiga Moira sobre o mesmo assunto, "é mais bonito".

Dou por mim a olhar para a receita que publico hoje. Fica entre um trifle e um tiramisu e tem mil e uma versões possíveis naquilo que a Nigella chama um trifle anglo-italiano e que outros apelidam de tiramisu de frutos vermelhos. A minha opção por trifle para esta versão é justificada simplesmente por uma convicção de que um tiramisu leva sempre café e um trifle leva sempre fruta. O critério é frágil mas explica a minha lógica de pensamento. As diferenças entre um tiramisu e um trifle são relativas. Já as suas parecenças são por demais evidentes: um e outro são compostos por camadas de palitos ou bolo, cobertos com um creme e finalizados com cacau ou com um elemento crocante. Um é italiano e o outro tipicamente britânico. Esta é a minha versão. Inspirada nas receitas acima mencionadas, fruto dos ingredientes existentes em casa e de um desejo de uma sobremesa colorida.

Céus de Fevereiro // February skies
Trifle de mascarpone e morangos



Trifle de mascarpone e frutos silvestres

6 porções

para os frutos:
300g frutos silvestres (congelados)
1 colher (sopa) sumo limão
2 colheres (sopa) açúcar fino
2 colheres (sopa) água
1 colher (sopa) Crème de cassis

2 ou 3 fatias grossas de pão de ló ou bolo de claras, cortadas em palitos grossos

para o creme:
300ml leite gordo
2 gemas, ligeiramente batidas
2 colheres (sopa) açúcar
1 colher (chá) amido de milho (maisena)
1 colher (chá) extracto de baunilha
250g mascarpone

para a camada superior:
200ml natas frescas
umas gotas de sumo de limão
3 colheres (sopa) açúcar fino
1-2 colheres (sopa) amêndoas laminadas, tostadas

Coloque os frutos silvestres (sem descongelar) num tacho com os restantes ingredientes, à excepção do licor. Deixe ferver em lume brando até obter uma mistura de frutos e calda homogénea (cerca de 7-8 minutos). Retire do lume e misture o crème de cassis.

Disponha os pedaços de bolo no fundo de uma tigela de vidro (para as camadas serem visíveis) e deite a mistura de frutos silvestres por cima. Reserve.

Para o creme, num tacho dissolva o amido de milho no leite e misture o açúcar. Leve ao lume. Adicione 2-3 colheres da mistura ainda morna às gemas e verta para o tacho. Mexa com uma vara de arames até o creme engrossar (5 minutos). Retire do lume e adicione o extracto de baunilha e o mascarpone, mexendo sempre até o creme não apresentar grumos do queijo. Deixe arrefecer ligeiramente e verta por cima das camadas de bolo e frutos silvestres.

Bata as natas com o sumo de limão até começarem a engrossar. Nesta altura, adicione o açúcar (uma colher de cada vez) até obter uma mistura com consistência. Atenção para não bater excessivamente.

Distribua colheradas de natas sobre o creme. Leve ao frigorífico durante 4 horas ou de um dia para o outro. Quando for servir, polvilhe com as amêndoas laminadas tostadas.