24.11.15
{Aura} O Cozido à Portuguesa e o Pudim de Abade Priscos
Por Lisboa, nestes dias as temperaturas têm sido mais baixas. E basta assumar o tempo frio para que sobrem razões a um apelo ao conforto de um cozido. Tradição gastronómica de muitas famílias, o cozido é sinónimo de encontro à mesa para almoços de Domingo que se estendem pela tarde fora, numa mistura de emoções construídas desde a infância e perpetuadas ao longo da idade adulta. No cozido à Portuguesa encontram-se vertidas as diferentes tradições dos cozidos regionais, onde as muitas carnes, enchidos, vegetais ou leguminosas vão mudando ao sabor da geografia, porque como explica Vírgilo Nogueiro Gomes o conjunto dos vários cozidos regionais constituem uma viagem ao país, no qual, cada região se apresenta com os seus produtos ou tradições locais. E esse conjunto de cozidos é o património nacional e identificador do nosso patriótico «cozido».
Fruto do gosto que temos por esta instituição gastronómica, o cozido tornou-se prato do dia em inúmeros restaurantes, com data marcada, e ansiosamente esperado por quase todos. Num Domingo de sol, fomos conhecer o cozido do chef Duarte Mathias no Aura. Ali com o Terreiro do Paço ao lado, este é um restaurante onde as tradições sustentam uma cozinha contemporânea onde o sabor tem lugar central. O buffet de cozido, servido aos Domingos, apresenta uma homenagem à receita tradicional, com as carnes e os enchidos, o arroz e o feijão branco, o nabo e as couves. Exemplar nos tempos de cozedura e na apresentação, a grande vantagem para os mais esquisitos é escolher o que se come, enquanto para os verdadeiros apaixonados é poder repetir!
De barriga cheia e alma preenchida, este é um programa para a família ou para um encontro à mesa que lembre as raízes gastronómicas de cada um. Com um vinho tinto a acompanhar, as minhas memórias ficam ainda mais completas quando reconheço neste Aura as características de um bom alentejano. A dificuldade por esta altura é dar resposta à pergunta: sobremesa, sim ou não? Na verdade depois duma refeição como esta a sobremesa fica sempre a perder. Lá decidimos ceder à gula e à curiosidade e partilhar um Pudim de Abade de Priscos, também ele um ícone da doçaria portuguesa.
Só quando nos chega à mesa um prato muito bonito percebemos a enorme vontade que tínhamos de o provar. O extraordinário pudim vem com espuma de mirtilos, crocante de amêndoas, caramelo e flores e frutos do bosque e não é preciso muito para sabermos que tinha sido a escolha certa. É uma sobremesa bem conseguida que sintetiza bem o espírito do Aura, o reconhecimento da tradição numa abordagem sempre actual e muito bem executada. Resta-nos aproveitar o sol, enfrentar o frio e passear junto ao rio. Para programa de Domingo, não podia ter sido melhor.
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Aura Lounge Café
Terreiro do Paço - Praça do Comércio,
1100-039 Lisboa