20.2.22

Crónicas do Vinho: “Alho e vinho puro levam a porto seguro”

Mercado de Campo de Ourique

O adágio conservado ao longo dos tempos mostra a confiança no tempero que feito de alhos e vinho serve inúmeros pratos do receituário português: tudo começa com uma vinha-d’alhos. A tradição de misturar vinho, louro, vinagre, alho, pimenta e sal para marinar carne resulta da necessidade de conservar os alimentos e acrescentar sabor e melhor textura a cortes menos nobres. O rácio e forma dos ingredientes (mais ou menos vinho, dois dentes de alho ou dez, pimenta em grão ou moída, etc.) depende da vontade do cozinheiro e da generosidade da mão que comanda o alguidar.

Diz-se que devemos aos minhotos esta combinação ganhadora que faz parte dos sabores mais reconhecidos da nossa gastronomia, utilizada um pouco por todo o país. Na Madeira, por exemplo, faz parte da mesa do Natal e adopta as ervas locais aos rojões de porco, celebrando a matança do animal e a festa da família. Por ser um tempero infalível é utilizada em carnes várias, desde o borrego ao coelho, passando pelo frango. Usualmente feita com vinho tinto, nada impede que se opte por um branco ou verde e se procurem outras ervas como o tomilho ou o alecrim.

Mas a fórmula acompanhou também quem foi para terras mais longínquas, encontrando-se em Goa o curioso Vindaloo, um tempero em tudo semelhante ao original que lhe dá nome, em jeito de caril com mais especiarias, gengibre, uma malagueta ou outra e uma pitada de açúcar. De lá terá voltado com os antigos colonos britânicos à Europa e encontra hoje no Reino Unido versões mais picantes sob o mesmo nome. É a maravilha das receitas desenvolvidas por diferentes gerações, povos e culturas. Já sabe, seja onde for, alho e vinho puro levam a porto seguro!

Mercado de Campo de Ourique

Esta crónica foi publicada originalmente no Blog do Enólogo Continente.