21.12.20

Livros favoritos 2020

Livros Favoritos 2020

Salvação da alma e consolo do corpo, os livros são para quem os guarda perto do coração sinal de esperança e luz brilhante em dias de nevoeiro. Talvez mais ainda do que noutros anos, foi entre as páginas de novos e velhos amigos que 2020 se fez suportável: sorrisos, lembranças ou como construir memórias boas onde nascem dificuldades e sobeja a ansiedade. Se a resposta completa não está entre os livros, há certamente uma pista ou um caminho que surge das palavras, se condensa na fotografia e vira registo no papel. Porque este (ainda) não foi o ano que o digital ganhou terreno nas nossas leituras.

Das escolhas, sempre pessoais e irrepetíveis, estes foram os 5 livros favoritos feitos companhia, viagem e inspiração no ano que agora termina. Como fazer pão e o que fazer com o pão, como viajar sem sair de casa e voltar a lugares onde já fomos felizes ou todas as palavras, que são sempre poucas, para pensar, viver e ser o que se come em cada segundo. Gratos, sempre, aos livros por nos salvarem os dias!

Livros Favoritos 2020



Livros Favoritos 2020

Vamos fazer pão de Isabel Zibaia Rafael

O quê? - Curso imediato de como tratar a massa por tu, seja com fermento natural, levedura seca ou fermento fresco, e dezenas de receitas para chegar ao pão que nos sabe sempre bem. Desde o pão para todos os dias ao pão para dias de festa, entre doces e salgados, simples ou mais ambiciosos, não há cacete, bolinha, pão de forma (ou de Deus), que escape a receita completa, com indicações de como fazer, moldar e cozer. Que é como quem diz e a Isabel confirma "Fazer pão em casa é uma forma de felicidade!".

Quem? - Isabel Zibaia Rafael é alguém que muito sabe de gastronomia e cozinha, sendo capaz de ensinar e inspirar em generosas doses. Para além das gargalhadas partilhadas e das conversas sem fim, devemos-lhe os melhores pães que sairam da cozinha cá de casa nos últimos tempos e o presente de Natal perfeito para todos os padeiros amadores da família!

A cozinhar? - Bolo-rei salgado (p. 78) e Pão de vinho tinto com nozes (p. 94)

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Livros Favoritos 2020
Livros Favoritos 2020

Gastronomia de Bordo — Peniche de Patrícia Borges e Nicolas Lemonier

O quê? - Uma viagem a bordo das embarcações que fazem a faina em Peniche e um convite para entrar nas vidas daqueles que trazem para terra o peixe que chega ao nosso prato, com a tradição e história gastronómica da regão a deixar vontade de (re)visitar. Este livro representa mais um capítulo na Gastronomia de Bordo, um projecto com a chancela do município de Peniche que este ano chegou a todos transformado em texto e imagem, com receitas e uma incursão nas artes da pesca.

Quem? - A chef Patrícia Borges tem um percurso reconhecido na defesa da gastronomia do mar e no ensino das novas gerações de cozinheiros e chefs. Já o fotógrafo Nicolas Lemonier tem na comida e na gastronomia um campo de trabalho de muitos anos: são dele algumas das fotografias mais icónicas que fazem parte do imaginário colectivo da cozinha portuguesa (e não só). Entre os dois oferecem a possibilidade ao leitor de saber mais sobre pesca e pescadores, peixe e outros frutos do mar de Peniche.

A cozinhar? - Carapaus alimados (p. 56) e Alfaquique com açorda de ovas (p. 111)

nota: O livro encontra-se à venda no Turismo de Peniche, Museu da Renda de Bilros de Peniche, Centro Interpretativo de Atouguia da Baleia e está disponível aqui.

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Livros Favoritos 2020

O Homem Que Comia Tudo de Ricardo Dias Felner

O quê? - Colectânea de aventuras em nome pessoal, com lugares, receitas, matéria e espírito à medida. Mais palavra que imagem e o mundo todo sentado à mesa ou à boleia de uma tigela, para fazer-se sonho, conhecimento e desafio. Escrito em modo opinião / relato, O Homem Que Comia Tudo é composto por textos de pequena ou média dimensão sobre um tema específico que prometem deixar água na boca (salvo uma ou outra excepção para quem não come mesmo tudo!).

Quem? - Ricardo Dias Felner escreve como quem respira e come literalmente tudo. Entre os momentos em que veste o fato de crítico gastronómico ou se aventura na sua cozinha, arranja ainda tempo para partilhar os seus conhecimento e experiências com quem quer aprender escrita de gastronomia ou arriscar sair da sua zona de conforto no que à mesa diz respito. A última cruzada é uma ode ao picante e tem, já se adivinha, formato digital (os mais curiosos podem saber mais em O Homem Que Comia Tudo Picante).

A cozinhar? - Rabo de boi com cogumelos (p. 72) e Chocos com tinta na frigideira e batata-doce (p. 93)

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Poilâne — The Secrets of The World-Famous Bread Bakery de Apollonia Poilâne

O quê? - Uma homenagem a Lionel Poilâne pela sua filha, feita história de família e postal ilustrado de Paris. Se o pão só se concretiza em pleno quando é partilhado, esta padaria histórica pertence também um pouco a todos aqueles que guardam a cidade luz no coração e fazem de Saint-Germain-de-Prés casa por uns dias de quando em vez. E no ano em que ficámos mais em casa do que era nosso desejo, estas páginas são bilhete para ir até à rue du Cherche-Midi. Concebido também a pensar no público americano, este é um livro que saltita entre receitas, história pessoal e familiar da autora e uma celebração da padaria que faz os encantos de tanta gente.

Quem? - Apollonia Poilâne é a senhora Poilâne por direito próprio e não apenas por herança e responsabilidade. A sua história de família, entre a tragédia e a superação de uma jovem mulher, é inspiradora por mais razões que os maravilhosos pães saídos todos os dias dos fornos parisienses. A decisão de gravar em livro as múltiplas dimensões de um negócio que se confunde com o percurso pessoal e a história da Poilâne faz de Apolonia (mais uma vez) alguém com muito para dizer.

A cozinhar? - Bread Granola (p. 99) e Brioche Whipped Cream (p. 235)

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Cook, Eat, Repeat de Nigella Lawson

O quê? - Mantra culinário em forma de reflexão sobre o que faz de uma receita uma receita e outros pensamentos pela mão da rainha das ervilhas congeladas (como lhe chama o grande Nigel Slater). Não se deixem enganar pelos rótulos ou pré-conceitos aplicados a Nigella. Inteligente, conhecedora de todos os secretos da comida e senhora de uma prosa invejável, pouco lhe escapa. A voz é inconfundível e tende a hipnotizar quem lê, deixando a difícil escolha entre continuar a ler ou ir até cozinha aplicar o conhecimento adquirido. Mas este é um livro tanto para cozinhar como para ler e é (ficam avisados) difícil de pôr de parte quando se começa. Do amor pelas anchovas, passando pelo ruibarbo e pela comida sem cor, e não tendo sido pensado para ser um livro de confinamento, Cook, Eat, Repeat pode bem ser a síntese perfeita de tudo o que nos manteve mentalmente sãos em 2020.

Quem? - Nigella Lawson requer poucas apresentações. Adorada pelos britânicos (a quem ensinou que a comida podia ser emocionante e fácil de confeccionar) e seguida por todos os outros, é na escrita que a inteligência se mostra evidente. Seguir as suas receitas é como ouvi-la sentada na bancada da cozinha a dar indicações e apontar caminhos sem deixar espaço para qualquer ambiguidade mas considerando que todas as liberdades individuais são possíveis. Porque uma receita não é um de chegada, antes seve como lugar de partida para algo delicioso.

A cozinhar? - Burnt Onion and Aubergine Dip (p. 96) e Rice Pudding Cake (p. 238)

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